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03/06/2014

REMÉDIO ERRADO, DOENÇA PROLONGADA


     Pedro e Pedrina estavam casados há uns cinco anos e as diferenças já aumentando. Foi por essa época que Pedro descobriu que Povim de Tabuí comentava, à boca pequena, que o moço casara por interesse, já que a sogra era dona da Penção Socêgo, com três ou quatro quartos. Grande demais da conta pra tão pacata currutela.
     Tio Marcolino chegou a falar pro Pedro:
     - Ó sô, casa por dinheiro não. Tem empréstimo mais barato!...
     Mas eis que nasce o segundo filho. Logo no dia em que Pedro levou um tombo e teve uma séria inflamação muscular, ficando mesmo bem mal da perna. Pedrina também não ficou bem, pois teve descolamento da placenta. Os dois começaram a tomar remédio e, para o filho mais velho, de quatro anos, não bulir, colocaram os medicamentos em cima da geladeira.
    Enquanto isso, o tempo passava e Pedro brigava em dias alternados com a mulher e com a sogra. Ah, se arrependimento matasse!... E meditava com seus botões: “quem me dera o meu tempo de namoro aqui e ali, quando o amô era um jardim frorido. Pois, agora, com essa droga desse casamento, virou um campo de urtiga”. Descobriu o moço que um solteiro pode ser tão idiota quanto um homem casado, mas ele ouve isso muito menos vezes. “Ainda mais com essa jararaca de sogra zucrinano minha vida”. Cruzcredo!
     Só que Pedro, como a maioria dos habitantes de Tabuí, não sabia ler direito e as caixas dos medicamentos lá em cima da geladeira, eram bem parecidas... Daí pra misturar tudo foi um pulo. Resultado. Pedrina, que tomava o seu remédio direitinho, sarou logo, mas Pedro teve a inflamação piorada. E a sogra, para pisar um pouco mais na ferida do coitado do genro, gozava:
      - O Pedroca pode num tê sarado da inflamação, mas discolamento de pracenta ele nunca vai tê!...
©By Eurico de Andrade, in Tabuí e seus Causos  https://www.facebook.com/causos e http://tabui.blogspot.com.br/

24/04/2013

REMÉDIO PRA VERME




Professor Trajano tava dando aulas do curso de madureza à noite, no grupo escolar de Tabuí. Alunos cansados do trabalho diário, alguns de porre, outros de ressaca, enquanto alguns e algumas já estavam prontos para uns encontros depois das aulas.

Naquela noite, o mestre - idealista como quase todo professor - resolveu inovar. Levou de casa dois copos de vidro e duas lombrigas solitárias que conseguira com a vizinha que fizera o filho de cinco anos defecar numa folha de caderno.
- Observem aqui! Prestenção!...
Primeiro professor Trajano colocou uma lombriga dentro de um copo com água. A bichinha ficou nadando pra cima e pra baixo, toda serelepe. Aí ele pegou um copo onde, segundo ele, tinha colocado cerveja. Botou nele a outra lombriga. A danadinha não gostou, estrebuchou e em poucos segundos estava morta.
- Vocês viram? O que aprendemos com a experiência?
Cirino, um dos que estavam já com uns gases alcoólicos na cuca, levantou a mão, ficou de pé e veio em direção ao professor.
- Fessô - hic - negósiguim... Ieu aprendi que - hic - se eu bebo cerveja, fico sem verme! Hic... Intão já tô ino toma a minha! Hic... Boa noite!...

15/04/2013

DIDICO FICOU SEM A COMPANHEIRA




Didico Verdinho tava preocupado com a doença da Marrapa. Foi, cheio de dúvidas, ver o médico lá em Tabuí pra quem resolveu abrir o coração.
- Pois, dotô, a Marrapa, minha companheira de muntos ano, num anda mais quereno sabê de mim, uai!... Num será quielacha qui num tô mais dano no coro? Causdiquê si o sinhô num resorvê o pobrema, eu perdo ela protro...
- Faz o seguinte, senhor Didico... Tome este remédio aqui... Vai deixar o senhor mais reforçado e mais animados praquelas horas...
Diantou foi nada. Passam uns dias e tá de volta o Didico com a mesma reclamação.
- Oquecofaço, dotô? Ela virô as costa e num quis nem sabê!... O remedim valeu de nada não, sô!...
- Senhor Didico, tenho um remédio aqui mas é forte demais da conta e a gente não o recomenda pra qualquer um, pois, o seu uso, de forma desregrada, pode até matar... Vou dar uma dose pra uma noite apenas. E vamos aguardar e ver a reação dela.
Como o Didico Verdinho não apareceu no dia seguinte para reclamar ou dar notícia, quem ficou preocupado foi o médico. À tarde, preocupação aumentada, ela resolver Ir à casa do paciente, que ficava na roça, bem a uns três quilômetros da cidade. Ao chegar ao sítio do Didico, tá ele lá vestido de preto.
- Mas, seu Didico, não é possível que sua mulher não aguentou a dose e morreu?
O Didico tava calado e calado ficou. Mas, ouvindo a conversa, vem lá de dentro a mulher do Verdinho.
- Né não, dotô, tô é muito boa e foi bão o sinhô tê vindo! Pois num há de vê o dotô que a cabritinha Marrapa morreu de repente? E até agora ninguém sabe causdiquê!...

24/02/2013

FARMÁCIA MONTADA. CADÊ FREGUÊS?




João e Maria resolvem vender tudo o que têm na cidade grande e se mudar para o interior. Cidade pequenina, sem assaltos, sem roubos, sem mortes no trânsito e sem um monte de coisas.
Lá no interior, em Tabuí, resolvem que o melhor que poderiam fazer seria montar uma farmácia. Compram uns remedinhos, assim pra dor de barriga, dor de cabeça e febre e mais uns outros e tá montada a farmácia. A dita cuja fica no térreo e o casal ocupa o andar de cima. Era o único predião de Tabuí. No primeiro dia, não aparece nenhum freguês. Nem no segundo e no terceiro. No quarto dia, vem um pedir água. No quinto dia, lá pelas quebradas da madrugada, alguém bate na porta de aço, aprontando o maior barulhão.
- Ô de casa! Abre aqui pur amô de Deus!
O João acorda meio tonto e fica vou não vou... Até que a Maria fala:
         - Vai, João! É nosso primeiro freguês, sô! Vai lá e atende o homem!
João desce, ainda tonto, de má vontade, trocando as pernas. Abre a porta com dificuldade, ao mesmo tempo em que pensa “quem sabe agora, nesta hora, consigo vender muito remédio, para descontar os dias em que passei à míngua”.
Assim que abra a porta, quem ele vê? O Cirino, o maior bebum da cidade.
- O sinhô tem meroral?

22/01/2013

REMÉDIO ERRADO, DOENÇA PROLONGADA



Pedro e Pedrina estavam casados há uns cinco anos e as diferenças já aumentando. Foi por essa época que Pedro descobriu que Povim de Tabuí comentava, à boca pequena, que o moço casara por interesse, já que a sogra era dona da Penção Socêgo, com três ou quatro quartos. Grande demais da conta pra tão pacata currutela.
Tio Marcolino chegou a falar pro Pedro:
- Ó sô, casa por dinheiro não. Tem empréstimo mais barato!...
Mas eis que nasce o segundo filho. Logo no dia em que Pedro levou um tombo e teve uma séria inflamação muscular, ficando mesmo bem mal da perna. Pedrina também não ficou bem, pois teve descolamento da placenta. Os dois começaram a tomar remédio e, para o filho mais velho, de quatro anos, não bulir, colocaram os medicamentos em cima da geladeira.
Enquanto isso, o tempo passava e Pedro brigava em dias alternados com a mulher e com a sogra. Ah, se arrependimento matasse!... E meditava com seus botões: “quem me dera o meu tempo de namoro aqui e ali, quando o amô era um jardim frorido. Pois, agora, com essa droga desse casamento, virou um campo de urtiga”. Descobriu o moço que um solteiro pode ser tão idiota quanto um homem casado, mas ele ouve isso muito menos vezes. “Ainda mais com essa jararaca de sogra zucrinano minha vida”. Cruzcredo!
Só que Pedro, como a maioria dos habitantes de Tabuí, não sabia ler direito e as caixas dos medicamentos lá em cima da geladeira, eram bem parecidas... Daí pra misturar tudo foi um pulo. Resultado. Pedrina, que tomava o seu remédio direitinho, sarou logo, mas Pedro teve a inflamação piorada. E a sogra, para pisar um pouco mais na ferida do coitado do genro, gozava:
- O Pedroca pode num tê sarado da inflamação, mas discolamento de pracenta ele nunca vai tê!...