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06/07/2014

AFINAL, CÊ É FIO DE QUEM?


   O moço chegou em casa todo feliz.
   - Pai, eu vou casá!
   - O quê, fio? Casá? Casá com quem, sô?
   - Casá com a Zefinha, pai...- Qualé Zefinha, fio?
    - A Zefinha, fia do Osvaldo! 
   O pai quase teve um troço. Chegou a engasgar e tiveram que trazer água pro homem. Mais calmo o velho pai chama o filho:
   - Fio, cê num pode casá com a Zefinha não, sô! Nem deixe sua mãe discunfiá disso. Ela num possabê. Mas com a Zefinha não. Ela é sua irmã, fio!
   - Que mané irmã o quê, pai? Pois que ela é fia do sô Osvaldo, o Osvaldão, lá da Prefeitura!
   - É fio, o Osvardão viajava, saía muito de casa... Sacumé, né? Intonces que a Zefinha é sua irmã, fio... Pocasá cuela não. 
   Foi um auê. O moço foi pro seu quarto e chorou, chorou, até os olhos ficarem inchados. Aí chegou a mãe pra ver o que se sucedia com o filho.
   - Quecocê tá chorano, fio?
   - Mãe, é que eu quero casá e o pai ficou contrariado, num tá quereno deixá. Disse que a moça é minha irmã... 
   Foi a vez da velha quase ter um troço. Faltou-lhe ar, teve taquicardia... Mas resolveu perguntar:
    
- Qualé memo quié a moça?
   - É a Zefinha, mãe, a fia do sô Osvaldo. 
   - Besteira, fio. Pocasá cuela sim. Portânça não. Ela num é sua irmã não. Mas não conta pro seu pai não, viu meu fio? 
   - Uai, mãe... Cumé quié isso? 
   - Uai, meu fio, é qui seu pai saía muito de viagem por esse mundão de Deus... Sacumé quié essas coisa, né fio?
(Causo contado pelo amigo Divino Martins, de Itapuranga-GO)
©By Eurico de Andrade, in Tabuí e seus Causos https://www.facebook.com/causos e http://tabui.blogspot.com.br/

20/04/2014

SEMANA SANTA


           O Joaquim foi escalado pelo Padre Anacleto para fazer o papel do diabo na Semana Santa, lá no salão de festas da paróquia de Tabuí, onde um palco fora improvisado.    
      - Eu, o diabo, padre? Deus vai me castigá!
      - Porcamiseria, figlio mio! Castigaroquê? – Padre Anacleto ficava brabo quando contraditado.
     Na cena em que Joaquim trabalhava, ele entrava voando, num impulso dado por uma corda empurrada por um ajudante de palco. Quase na hora do espetáculo, Joaquim descobriu que o ajudante ficara doente e que fora substituído por outro paroquiano que nem participara do ensaio.
     - Seja o que Deus quisé, meu Deus! – Reclamava o Joaquim, vestido de capeta.
     Na hora da apresentação o paroquiano que substituíra o ajudante de palco, querendo mostrar serviço, exagera na força e joga o diabo muito acima do planejado. Quando o diabo sente a altura nunca atingida nos ensaios e analisa as consequências da queda, grita lá de cima, antes de se esborrachar no chão:
     - Me acode, Senhora da Aparecida!... 

    (Este causo me foi contado pelo amigo José Sallum, de Caxambu-MG)

13/12/2008

A Paixão de Cristo

Lá em Tabuí se não houver encenação na Semana Santa, tem briga. É tradição. Tem que ter a encenação pro povo ver, chorar e se arrepender dos pecados. Os fiéis vêem de tudo quanto é canto para prestar sua homenagem ao Filho de Deus, colocar suas orações em dia e contar alguns pecados pro padre Anacleto, quando possível. Naquele ano o vigário resolveu convidar para fazer o papel de Cristo o Pedro Bode, conhecido de todos não pela fé, mas pelo gosto à Providência, a pinguinha da terra. Pedro foi confabular com o amigo Manuel:
- Óia, Manel! O padre acho que achou ieu com cara de santo, viu?
-É não, Pedro! É quiocê tem memo a cara de Cristo, cuessa barbicha e esse oio de peixe morto... Aí a encenação fica mais verdadeira, né?Este o papo dos dois amigos de golo no boteco conhecido como Copo Sujo, do Vadico. Ensaio que é bom, o Pedro Bode perdeu todos. Mas padre Anacleto não desistia nunca do artista convidado e de uma possível alma arrependida. Queria porque queria o Pedro e ponto final.
- Manel, vamo faze o seguinte: eu vô mas ocê tem que í tamém.
- Í ondé, sô?
- Ieu vô sê Cristo, se ocê arranjá um papel tamém, uai!Mesmo golados, conseguiram arrumar com o padre Anacleto que o Manuel fosse um dos soldados que acompanhariam o Filho de Deus na subida ao Monte das Oliveiras. Manuel tentou escapulir de tudo quanto é jeito, mas não deu. Teve que apoiar o amigo.Às quinze horas da sexta-feira santa, tá o povão se acotovelando na praça da matriz, onde providenciaram um “Monte das Oliveiras”. Os dois amigos, morrendo de vergonha, totalmente sóbrios - já que os botecos estavam fechados - não conseguem entender como entraram naquela encalacrada. Silêncio total na praça. Pedro Bode já está crucificado e o soldado Manuel ao pé da cruz, suando frio e com dó do companheiro, com vontade de pedir-lhe perdão até pelos maus pensamentos. Foi aí que Manuel lembrou que, por dentro da cueca, tinha uma garrafinha de pinga para dar coragem. Deu um jeito de, sem que ninguém visse, escondendo atrás de um ou de outro, tomar um gole da cangebrina. Mas e o Pedro, - pensou ele -, cumé que faço para dar uma força prele?Foi nessa hora que Jesus Cristo, aliás, Pedro Bode, pediu água:
- Tenho sede!
O soldado Manuel não esperou segundo pedido. Pegou a esponja onde devia colocar água para representar o fel e despejou nela tudo o que restava na garrafinha e, com a lança, forçou-a contra a boca de Cristo. As beatas choravam, crianças arregalavam os olhos, pecadores se prostravam, etc. e tal, e o povão revoltado com a maldade do soldado, tamanha a realidade da encenação. Qual não foi a surpresa de todos quando toda a cidade ouviu pelo serviço de alto falante o Jesus, que parecia quase desfalecido, em alto brado:
- Manel, ô Manel! Mais fel, Manel!!!...