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20/04/2014

SEMANA SANTA


           O Joaquim foi escalado pelo Padre Anacleto para fazer o papel do diabo na Semana Santa, lá no salão de festas da paróquia de Tabuí, onde um palco fora improvisado.    
      - Eu, o diabo, padre? Deus vai me castigá!
      - Porcamiseria, figlio mio! Castigaroquê? – Padre Anacleto ficava brabo quando contraditado.
     Na cena em que Joaquim trabalhava, ele entrava voando, num impulso dado por uma corda empurrada por um ajudante de palco. Quase na hora do espetáculo, Joaquim descobriu que o ajudante ficara doente e que fora substituído por outro paroquiano que nem participara do ensaio.
     - Seja o que Deus quisé, meu Deus! – Reclamava o Joaquim, vestido de capeta.
     Na hora da apresentação o paroquiano que substituíra o ajudante de palco, querendo mostrar serviço, exagera na força e joga o diabo muito acima do planejado. Quando o diabo sente a altura nunca atingida nos ensaios e analisa as consequências da queda, grita lá de cima, antes de se esborrachar no chão:
     - Me acode, Senhora da Aparecida!... 

    (Este causo me foi contado pelo amigo José Sallum, de Caxambu-MG)

26/05/2013

CRAVOS ZACARIA


Zacaria montou em Tabuí uma fabriqueta de cravos. Trem da melhor qualidade. Só que você talvez nem saiba o que é esse negócio. Cravo é um prego rústico, de tamanhos variados que, lá no interior, é usado para botar ferraduras em cavalos, montar as rodas dos carros de bois, pregar as dobradiças das porteiras e portas antigas, fixar os trilhos da linha de ferro nos dormentes e por aí a fora. O período mais famoso dos cravos foi no tempo dos romanos, quando eram usados para prender os crucificados à cruz.
Pois bem. Zacaria começou a fabricar os ditos cravos e logo tava vendendo pra toda a região. Aí, depois de ler uns manuais de publicidade, resolveu que era possível vender muito mais. Encomendou um cartaz grande, com o Cristo crucificado, que pregou num painel, bem à entrada da sua fabriqueta, onde se lia “Cravos Zacaria: dois mil anos de garantia”!
Padre Anacleto logo baixou na fábrica do Zacaria. Com o argumento de “questo non se faz, figlio mio”, convenceu o empresário a retirar a propaganda do cartaz. Zacaria obedeceu ao padre Anacleto. Mas como achava a ideia muito boa, resolveu insistir e mudou um pouquinho o projeto. Mandou fazer outro cartaz, com a cruz fincada e o Cristo ainda no chão. No cartaz escreveu: “Com Cravos Zacaria, Cristo não cairia”.

Nem um dia durou a propaganda e padre Anacleto baixou lá. Conversa vai, conversa vem, excomunhão daqui, excomunhão dali, Zacaria foi novamente convencido a retirar do cartaz a propaganda conforme estava. Mas era teimoso. Voltou à carga. Já que o vigário não queria a figura do Cristo envolvida, Zacaria mandou fazer um desenho apenas da cruz. E, embaixo, mandou escrever: “Com Cravos Zacaria, Cristo não fugia”.

(Baseado em texto da Internet)

14/03/2009

E o padre ficou no preju

Padre Anacleto tirou férias. Pro batizado do domingo, bispo mandou lá um padre itinerante, desses que não se adaptam a lugar nenhum e que, quando arrumam uma oportunidade de ganhar um trocado, não gostam de perdê-la.
Por outro lado, o Toinzin Sossego, quando achava jeito de economizar trocado, ganho com tanto suor, fincava pé, perigava perder sangue, mas não botava a mão na algibeira. Pois bem. Toinzin, a mulher, os padrinhos e madrinhas se mandaram pra cidade. Batizar o Galileu que andava mal das pernas.
- Carece batizá o minino, Sossego. Pode ficá pagão não!
Isso era Malvina, com medo do menino morrer antes da hora.
Padre cascou o batismo no Galileu em questão de segundos e encarou guloso os olhos do Sossego.
- São vinte reais, senhor Antonio! É o preço do batizado!
O Sossego quase ficou sem fôlego, depois de ter perdido as cores. Pensou em quatro dias de capina, no cabo da enxada, de sol a sol, a cinco reais o dia. Arrependeu-se de não ter tentado chegar a padre.
- Sô vigaro, é que tô meio desprivinido!...
- Veja aí, senhor Antonio, os seus compadres e comadres...
- Dá não padre, tão tudo pió do que eu...
Sossego já tava pensando eu vou ter que deixar o menino como garantia... O padre piscava miudinho, pensando, preocupado, em como garantir aquela grana no bolso.
- Mas o senhor não tem alguém na cidade, um parente, um amigo, a quem pedir emprestado? Ou alguém a quem eu possa mandar a conta?
- Óia, padre, tê, até que tenho. Duas parente, mas as duas disgarrada. S’extraviaro...
- Como? Extraviaram-se?
- É, padre. Uma virô prostitute e a ota virô freira. As duas tão aí. Uma no cabaré, só ganhano pro gasto e a outra no convento, sem tê o que gastá.
- Mas, senhor Antonio, extraviada? Sua irmã? Freira é esposa de Cristo, senhor Antonio!
- Ah, bão, padre! Intão, inda bem! Se ela é esposa de Cristo, tamo resorvido. O sinhô bota o batizado do Galileu na conta do meu cunhado, qui é seu chefe... Inté!

13/12/2008

A Paixão de Cristo

Lá em Tabuí se não houver encenação na Semana Santa, tem briga. É tradição. Tem que ter a encenação pro povo ver, chorar e se arrepender dos pecados. Os fiéis vêem de tudo quanto é canto para prestar sua homenagem ao Filho de Deus, colocar suas orações em dia e contar alguns pecados pro padre Anacleto, quando possível. Naquele ano o vigário resolveu convidar para fazer o papel de Cristo o Pedro Bode, conhecido de todos não pela fé, mas pelo gosto à Providência, a pinguinha da terra. Pedro foi confabular com o amigo Manuel:
- Óia, Manel! O padre acho que achou ieu com cara de santo, viu?
-É não, Pedro! É quiocê tem memo a cara de Cristo, cuessa barbicha e esse oio de peixe morto... Aí a encenação fica mais verdadeira, né?Este o papo dos dois amigos de golo no boteco conhecido como Copo Sujo, do Vadico. Ensaio que é bom, o Pedro Bode perdeu todos. Mas padre Anacleto não desistia nunca do artista convidado e de uma possível alma arrependida. Queria porque queria o Pedro e ponto final.
- Manel, vamo faze o seguinte: eu vô mas ocê tem que í tamém.
- Í ondé, sô?
- Ieu vô sê Cristo, se ocê arranjá um papel tamém, uai!Mesmo golados, conseguiram arrumar com o padre Anacleto que o Manuel fosse um dos soldados que acompanhariam o Filho de Deus na subida ao Monte das Oliveiras. Manuel tentou escapulir de tudo quanto é jeito, mas não deu. Teve que apoiar o amigo.Às quinze horas da sexta-feira santa, tá o povão se acotovelando na praça da matriz, onde providenciaram um “Monte das Oliveiras”. Os dois amigos, morrendo de vergonha, totalmente sóbrios - já que os botecos estavam fechados - não conseguem entender como entraram naquela encalacrada. Silêncio total na praça. Pedro Bode já está crucificado e o soldado Manuel ao pé da cruz, suando frio e com dó do companheiro, com vontade de pedir-lhe perdão até pelos maus pensamentos. Foi aí que Manuel lembrou que, por dentro da cueca, tinha uma garrafinha de pinga para dar coragem. Deu um jeito de, sem que ninguém visse, escondendo atrás de um ou de outro, tomar um gole da cangebrina. Mas e o Pedro, - pensou ele -, cumé que faço para dar uma força prele?Foi nessa hora que Jesus Cristo, aliás, Pedro Bode, pediu água:
- Tenho sede!
O soldado Manuel não esperou segundo pedido. Pegou a esponja onde devia colocar água para representar o fel e despejou nela tudo o que restava na garrafinha e, com a lança, forçou-a contra a boca de Cristo. As beatas choravam, crianças arregalavam os olhos, pecadores se prostravam, etc. e tal, e o povão revoltado com a maldade do soldado, tamanha a realidade da encenação. Qual não foi a surpresa de todos quando toda a cidade ouviu pelo serviço de alto falante o Jesus, que parecia quase desfalecido, em alto brado:
- Manel, ô Manel! Mais fel, Manel!!!...