Mostrando postagens com marcador médico. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador médico. Mostrar todas as postagens

06/06/2013

ONQUIÉ O POBREMA MEZZ?

Terebinto Maricota deu que num dia amanheceu com o intestino preso. Ia lá na privada, no fundo do quintal, fazia força e nada de escapar nada. No dia seguinte, a mesma coisa. E chegou a preocupação.
- Oquecofaço, meu Deus?
Nem pra mulher Maricota teve coragem de falar. Vergonhento demais da conta. Resolveu conversar com seu compadre João Pelota, colocando-o a par do problema.
- Ó cumpade Maricota, acho que cê tem que í no médico, sô! Causdiquê isso daí pode dá um revertéro e í pu cébro... Já pensô, cumpade? Essa merdaiada toda na sua cabeça?
Aquela conversa deixou o Terebinto pronto pra ver o médico lá em Bambuí. Foram os dois. Entraram juntos no consultório para o Terebinto criar coragem. Médico japonês, o doutor Shidoe Eukuro.
- Ó, seu Terebinto Maricota o senhor leve este supositório e vai aplicar no ânus, ao chegar em casa. Certo?
- Certo, dotô!
Os dois compadres pegam cada qual seu cavalo e voltam pra casa. No meio do caminho, com a metade da vergonha já deixada pra trás, o Maricota pergunta por João Pelota:
- Cumpade, cê sabe o quié esse tali de ânus?
- Uai, sô! Sei não. Pensei quiocê sabesse!...
Voltaram pro médico Shidoe Eukuro. Humildemente bateram na porta e perguntaram:
- Cumé mezz dotô qui é pa tomá esse trem?
- Seu Maricota, introduza no reto, entende? Bem lá no fundo!...
Sendo tudo entendido, pegaram seus cavalos e se mandaram pra casa. Mas, no meio do caminho, a grande dúvida:
- Cumpade, o que quié reto?
- Sei lá, home de Deus! A doença é sua, ocê qui tinha qui sabê! Uai!... Bamo vortá lá de novo!
- Eu, cumpá Pelota? Nunquinha que eu vorto! Vai que ele fica nelvoso e mandáieu colocá isso no rabo? Rummm!....

18/05/2013

A HISTÓRIA SE REPETE



Jordelina tava com uns trens esquisitos pra sua juventude de dezoito aninhos. Umas tonturas misturadas com perdas de apetite e até uns danados de uns vômitos. Curuzes!... A moça quase não comia e, quando comia, vomitava... Tadinha!...
Médico fez exame e concluiu com seus botões “é gravidez, só pode!”. Pediu exame. Batata!...
- A Jordelina tá grávida, quase chegando nos três meses, dona Matilde!... E aposto que a senhora vai dizer que “ela não conhece homem”, não é dona Matilde?
- É dotô. Essa menine só veve dendecasa, sô! Onquiela foi arrumá gravidez, diacho?
- Diz aí, Jordelina! Diz pra sua mãe que você nunca esteve com um homem!...
- Mais é verdade, mãe! Nem nunca bejei um home! Cruzcredo! Que trem mais isquisito!
Enquanto as duas continuam conversando e às vezes discutindo, o médico, silenciosamente abre a gaveta e pega sua luneta, focaliza-o em algum lugar no firmamento e fica olhando, sabe-se lá o quê.
Dona Matilde, depois que não tinha mais o que conversar com a filha, certa do erro do médico, cheg-as e ele e pergunta, em tom superior:
- Pra que esse trem aí, ô dotô?
- Ó, dona Matilde, não quero de forma nenhuma perder o espetáculo. Da última vez que ocorreu de uma virgem ficar grávida, veio uma estrela do Oriente e no rastro dela, três reis magos. Não posso perder isto agora, entende?

09/05/2013

GOSTO ESTRANHO


Este causo é muito esquisito e renegado por todo mundo de Tabuí. Mas, como aconteceu, o cronista não pode deixar de narrá-lo, pra não cair em descrédito. O Décio Zeloso chegou pra Tabuí de mãos abanando. Gostou do lugar, muito diferente daquela cidade do Sul, de onde viera corrido, - diziam as más línguas – e depois de muito trabalho conseguiu comprar o seu pedacinho de terra.
Até o linguajar e os costumes do povim, o forasteiro assimilou e virou um verdadeiro cidadão de Tabuí, embora morasse na zona rural. Mas eis que certo dia ele precisou ir um poquinho mais longe pra fazer exame de próstata. Tava sentindo umas treteiras lá nos ligamentos fundiários e os amigos começaram “é prósta”, “é prósta” e ele marcou médico, no Ibiá. Preferia um médico estranho e de longe a correr o risco de um dia encontrar com ele na rua e ficar sem ter onde botar a cara, de vergonha.
Quando o médico botou aquela luva e veio com o dedo em riste e enfiou, sem dó e nem piedade, o Zeloso gemeu feio.
- Dotô, tô guentano não!... Acho que vô gritá!...
- Socê gritá vai ficá ruim demais da conta, sô! A recepção tá cheia de gente... Com que cara você vai sair depois?
O médico continuou o exame, apalpando detalhes e tentando descobrir os porquês dos queixumes do paciente. E o Zeloso avisando:
- Dotô, eu vô gritá!...
- Guenta aí, sô Zeloso! Causdiquê tá quaiscabano!... – O médico, acostumado com o pessoal do interior, gostava de imitar o dialeto da região.
- Não, dotô, vô tê qui gritá! – Foi o que ele disse, dando uns gemidos estranhos...
Nessa hora o médico, já de saco cheio desse negócio de gritar, deu a ordem:
- Então grita home de Deus!...
E o Zeloso botou a boca no mundo, assim como se tivesse descobrindo novidades:
- ÔÔ trem bão, meu Deus do Céu!...

10/01/2013

VITALINO CUIDANDO DA MULHER

     O Vitalino tava cansado de ouvir as queixas da Malvina. Não tinha dia que ela não reclamasse. Era só o Vitalino entortar o zóio pro lado dela que vinha queixa:
     - Sai pra lá, home! Minha bixiga tá doeno!... Cê num sabe?
     Quando já tava subindo pelas paredes, Vitalino não teve solução. Foi levar a mulher ao médico lá em Tabuí pra ver se resolvia o problema.
     - A senhora urina com abundância? Perguntou o médico enquanto apalpava a barriga da Malvina.
     Aquela palavra não existia no dicionário da coitada. Como não entendeu, ficou calada. Mas, como a informação era importante para o médico, ele repetiu:
     - A senhora urina com abundância? – perguntou mais alto. E ela, com cara de paisagem.
     Aí Vitalino achou que era hora de tomar um providenciamento.
     - O sinhô qué sabê o que mezzz, dotô?
     Com cara de poucos amigos, olhando constantemente o relógio, como normalmente acontece com os médicos, ele fala:
     - Já estamos completando os dez minutos da consulta! Eu quero saber é se sua mulher mija com abundância!
     - Não, dotô! Acho que não! Acho que é com a outra coisa mezzz!...

20/07/2010

DOENTE POR SUGESTÃO

     Vitalino, menino sério, vergonhento e de mãos calejadas de pegar no guatambu de sol a sol foi à cidade procurar médico. Enfrentou fila do tal de Ienepeesse num calor de rachar. Suando, com sede e amarelo de fome, esperou com toda paciência. Caladinho, sem reclamar.
     Quando chamaram seu número, meio sem jeito, entrou na sala do médico. Miudinho diante do homem, não sabia nem como começar a falar.
     - Que que foi rapaz?
     - É que... Eu... Óia, dotô!...
     - Fala logo, menino, só tenho dez minutos pra cada um e não há tempo para perder!
     - É meu pai, dotô. Tá doente! Eu quiria...
     - Se é seu pai que está doente, porque você não o trouxe?
     - É qui ele num güenta vim, dotô! Tá muito runho!...Tá com tontera... Vumitô sangue...
     - Ah menino! Isso não é nada! Deve ser falta de comer direito. Manda ele se alimentar bem. Comer carne, verduras, frutas, ovos, leite... Logo, logo ele fica bom. A tonteira, pode ter certeza, é só impressão. Seu pai tá com impressão que tá doente, mas não está.
     - Mas, dotô...
     - O próximo!...
     Vitalino se manda. Caladinho. Obediente. Cabeça baixa e triste. Onde ele ia arrumar tudo aquilo para o pai comer? E o pai, acamado, nem reconhecendo as pessoas direito, sem nem poder se levantar, como é que ia comer alguma coisa que o menino porventura arranjasse? Situação braba. Carestia demais da conta.
     Antes de deixar a cidade, passa na padaria e compra dois pães. Come um para remediar a fome que tava fazendo seu estômago bater palminhas e leva o outro para o pai. Não dava para comprar carne, verduras, frutas, ovos, leite...
     O pai passa dois dias lutando com a morte. Mais pra lá do que pra cá. Menino não sabe o que fazer. Miséria muita. No escondido lágrimas doloridas correm-lhe pela face, a toda hora. Só ele e o pai no mundo. Mais ninguém. Não queria ficar sozinho. Tinha que ter solução. Volta à cidade. Procura o médico.
     - Já lhe disse menino, que seu pai só está impressionado! É sugestão. Só sugestão! Diga isso para ele. Fale que a vida é boa, que ele deve deixar de bobagem e aproveitar a vida!
     - Dotô, ele num pode nem mais falá!...
     - Olha, se você tiver dúvida do que estou lhe falando, só tem uma solução: traga seu pai aqui. Mais nada posso fazer. Tenho outros pacientes, tenho meu consultório... Traz ele aqui.
     - Dotô, ma nem um remedinho?
     - Posso receitar remédio sem examinar o paciente não, menino! Só com ele aqui, certo?
     Passam uns quinze dias. Médico chega lá na fazenda onde Vitalino trabalhava com o pai. Foi ver o fazendeiro que tivera uma gripe. Homem rico que podia pagar a consulta. Quando o doutor viu o menino, reconheceu-o.
     - E aí, ô menino, seu pai, como vai?
     - Meu pai, dotô, tá divera impressionado. Agora tá pensano qui morreu. Tá lá no cimintéro. Interrado tem oito dia!