Este causo é muito esquisito e renegado por todo
mundo de Tabuí. Mas, como aconteceu, o cronista não pode deixar de narrá-lo,
pra não cair em descrédito. O Décio
Zeloso chegou pra Tabuí de mãos abanando. Gostou do lugar, muito diferente daquela
cidade do Sul, de onde viera corrido, - diziam as más línguas – e depois de
muito trabalho conseguiu comprar o seu pedacinho de terra.
Até o linguajar e os costumes do povim, o forasteiro
assimilou e virou um verdadeiro cidadão de Tabuí, embora morasse na zona rural.
Mas eis que certo dia ele precisou ir um poquinho mais longe pra fazer exame de
próstata. Tava sentindo umas treteiras lá nos ligamentos fundiários e os amigos
começaram “é prósta”, “é prósta” e ele marcou médico, no Ibiá. Preferia um
médico estranho e de longe a correr o risco de um dia encontrar com ele na rua
e ficar sem ter onde botar a cara, de vergonha.
Quando o médico botou aquela luva e veio com o dedo
em riste e enfiou, sem dó e nem piedade, o Zeloso gemeu feio.
- Dotô, tô guentano não!... Acho que vô gritá!...
- Socê gritá vai ficá ruim demais da conta, sô! A
recepção tá cheia de gente... Com que cara você vai sair depois?
O médico continuou o exame, apalpando detalhes e
tentando descobrir os porquês dos queixumes do paciente. E o Zeloso avisando:
- Dotô, eu vô gritá!...
- Guenta aí, sô Zeloso! Causdiquê tá
quaiscabano!... – O médico, acostumado com o pessoal do interior, gostava de
imitar o dialeto da região.
- Não, dotô, vô tê qui gritá! – Foi o que ele
disse, dando uns gemidos estranhos...
Nessa hora o médico, já de saco cheio desse negócio
de gritar, deu a ordem:
- Então grita home de Deus!...
E o Zeloso botou a boca no mundo, assim como se
tivesse descobrindo novidades:
- ÔÔ trem bão, meu Deus do Céu!...
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