O Raimundo
Barbeiro sempre tinha confusão na sua barbearia já que atendia sem escrúpulos a
toda a fauna de Tabuí. No sábado que antecedeu a Páscoa,
apareceu o coronel Realejo Jambiró pra fazer a
barba. Coincidentemente, na barbearia, sendo atendido pelo Tõinzim Capeta, estava
o Benedito Tendodito, roceiro
pobre, humilde, dali do Bananal, ferrenho adversário político do coronel.
Os dois não
se bicavam, mas, em nome da democracia, em terra tão civilizada como Tabuí,
olharam um pro outro, mas não se cumprimentaram. Apenas fizeram “Rummm”. Os
dois barbeiros, conversadores e conhecedores das fofocas da cidade, nem sabiam
que assunto começar, com medo de que saísse discussão e o coronel, sempre armado
com um trabucão, aprontasse um fuzuê ali dentro. É preciso explicar que o Benedito não deixava por menos e carregava sempre uma
faquinha peixeira de meio metro de cumprimento. Foi um barbear ao silêncio
profundo.
Terminado o
serviço no coronel Realejo, o Tõinzim foi pegar na
prateleira a loção pós-barba pra borrifar a cara do freguês. Este, mais que
depressa, negou a deferência.
- Quero
não, Capeta! A muié lá in casa vai sintí esse chero e num vai gostá... Vai
pensá que isso é perfume de puteiro...
Nessa mesma
hora o Raimundo terminava a barba do Benedito Tendodito, a quem ofereceu também a loção pós-barba.
- Uai, sô!
É bão demais da conta. Popassá e muito! Quero chegá in casa pirfumado... A muié
lá in casa nem sabe cumé o chero do putero... Nunca trabaiô lá!...
Foi por
isto que o estabelecimento do Raimundo Barbeiro ficou seis meses ”fechado pra
reforma”.
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