Padre
Anacleto ia vez por outra pra Ingrizia batizar e confessar o povo e celebrar
missa. Ingrizia, cê sabe, é lá aonde o vento encosta o cisco. Fim de mundo
mesmo. Eis que, num certo dia, encontra a Credinha da Cruz que ele casara com
o Sansão Vagina havia uns três anos.
-
Cadê os figlios, bambina?
-
Tenho inda não, padre!... A gente num fizemo nenhum...
- Ma che! O que falta procê ter figlios, figlia mia?
- Num
sei, padre... A gente bem que tentamos, mais até agora, lencô tudo!....
- Ó, figlia, no mês que vem voi a Roma. Vou acender una vela procê e
su marito terem muito filhos. Deus vai abençoar a famiglia com muitos e muitos herdeiros. Cê quer?
Credinha da Cruz deu
um sorriso sem graça, suspirou fundo, olhou pro céu e respondeu:
- Uai,
padre, ieu quero sim!
Nas cinco
ou seis vezes seguintes que Padre Anacleto voltou a Ingrizia, não viu mais a Credinha, cuja
fazenda era longe da igreja e nunca dava tempo de ir fazer-lhe uma visita. Até
que, oito anos depois, eles se encontram, antes da missa.
-
Então, figlia mia? Deus trouxe algum figlio procê mais o seu Sansão Vagina?
-
Trazeu, padre. Deus foi bão demais da conta. Inté dizagerô... Dois trigême,
dois geme e mais dois in seis parto. Incerramo a conta com doze briguelo lá in
casa... E tem mais outro no caminho... – disse ela com timidez, olhando pro
chão. Padre Anacleto ficou emocionado com a notícia. Com os olhos cheios
d’água, falou:
- Ô, figlia mia! Benedicamus Dominum! Bendito seja o Pai!... Como é bom ter fé! E
cadê o seu Sansão?
- Uai, padre, ele resorveu viajá. Foi lá in Roma
vê se apaga essa vela qui o sinhô acendeu!...(Baseado em texto enviado por Ismael Vic, do Rio de Janeiro)
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