05/06/2014

DEU COBRA NA CABEÇA

     
     E deu numa quadra em que o Zenóbio tava vendo que a vida ia escapando-lhe aos poucos. Uma dor de cabeça infernal tomava conta dele de tempos em tempos... E aquilo foi amiudando. Até que não viu outra solução e foi procurar o médico lá no Tabuí. Diantou nada, mesmo tomando aquele tanto de comprimidinho. Dois dias depois, tá lá a dor de cabeça na sua cabeça de novo. Mas aí falaram pra ele:
     - Ô Zenóbio, vai no Bambuí, sô! Lá tem mais recurso. Chegou médico do Ridejaneiro, homem muito estudado. Mais mió que ele num há. Não é médico de ficá só receitano popatapataio não...
     Zenóbio foi. Crente de que o médico era mesmo da mais mió colidade. Povim sempre pensa que médico e padre quanto mais de longe melhores são. 
     Médico passou uma fórmula abarrotada de remédios pro Zenóbio. Lencou tudo. Mais dois dias e lá veio de novo a dor, fazendo a cabeça do moço até estalar. O doutor resolveu pedir exames mais apurados. Tinha o Zenóbio que ir pra Belo Horizonte, fazer uma pesquisa mais profunda. “Pode ser uma infecção mais complicada”, disse o médico. Mandou-o a um laboratório famoso.
    Lá se foi Zenóbio pra capital, levado pelo seu amigo Juquinha. Zenóbio nunca tinha ido à capital. Chegando os dois, foram ao laboratório, tiraram sangue do Zénóbio e radiografias do crânio de tudo quanto é posição. Praticamente viraram a cabeça do homem ao avesso.
     - Condé que sai o resultado, moço? 
     - Amanhã o senhor vem cá ver o que deu, senhor Zenóbio...
     Os dois amigos foram pra pensão, descansaram e, á noite, deram uma saída pra tomar umas biritas. Juquinha, que era bom de copo, exagerou na dose e custou a achar o caminho da pensão. No dia seguinte, o Zenóbio acorda tarde, com a dor de cabeça atentando. Mas não achou jeito de acordar o Juquinha. Ressaca braba, resolveu que, sozinho, acharia o caminho do laboratório para buscar o resultado. Só que ele interpretou mal o caminho. Viu uma rua, pensou que era, viu uma casa, pensou que era e não eram. Era uma casa onde imperava o jogo do bicho. Zenóbio estranhou um pouco o homem de branco que atendia, assentado a uma mesa, com um lápis e uns papelinhos espalhados. Mas, acreditando ser o laboratório, pensou “aqui na capital deve ser assim mezzz”, e esperou pacientemente sua vez, embora a cabeça continuasse a dor costumeira. 
     - O senhor, de que tá precisando?
     - Uai, sô, eu vim sabê o que qui deu!...
     - Deu cobra na cabeça!
     - Puta que pariu! Eu sabia que esse trem não era brincadera, causdiquê minha cabeça dói dia e noite... Foi por isso que nem dotô do Rio de Janeiro deu conta de me curá!
(Causo contado pelo amigo Divino Martins, de Itapuranga-GO)
©By Eurico de Andrade, in Tabuí e seus Causos https://www.facebook.com/causos e http://tabui.blogspot.com.br/

Um comentário:

Ivettegmoreira disse...

Eurico, seus causos são sempre impagáveis. A mesma mineirice de sempre.
Um abração de sua fã, Ivette