Era
sábado de muito sol e Cirino, Bentinho, Camisola e Jerebão tavam lá na metade
do Morro do Piqui Atolado, bem escundidins atrás dum barranco, à sombra de uma
pindaíba, entornando da Providência, “a água que passarinho não bebe” e
conversando potoca.
- ô
Bentinho! Cê sabe que o Camisola – hic! - disse pra mim que num qué criá
vergonha na cara?
- É
mezzz, Cirino? Causdiquê?
-
É, ele disse que num cria não, porque num sabe o quequesse bicho come. Hic!...
- E
ocê sabia, Jerebão – hic - que o Bentinho é o fio mais novo da mãe dele?
Todos
olham para o Bentinho para ouvir a versão do citado:
- É
mezzz, gente! Mais ieu era tão feio, tão magrelo e tão chato... Inda bem que fui
o úrtimo fio, mode que se tivesse sido o primeiro, a minha mãe – hic - ia fica
tão ripindida qui nem teria mais fio...
A
turma gostava de fofocar e beber ali no morro. Não queriam beber às claras,
para evitarem acúmulo de bêbados num só local. Depois de enxugarem uns três
litros da dita cuja tão afamada, resolvem fazer uma vaquinha pra alguém buscar
mais um litro.
-
Jerebão, ocê é que vai lá, sô! - Foi a decisão do grupo. O escolhido ficou,
portanto, de fora da vaquinha. Os outros três contribuíram cada qual com três
reais.
No
alto do Morro do Piqui Atolado havia uma venda e o Jerebão foi empurrando sua
bicicleta velha pra depois voltar mais digeiro. Colocou o livro da Providência
por dentro da camisa com toda a cerimônia e começou a descer a ladeira. Esquecera
de que a bicicleta não tinha freio. E o trem foi pegando velocidade e o Jerebão
não teve outro recurso que não se jogar no chão para evitar acidente maior.
Coisa de bêbado que fica cheio de coragem. E saiu rolando ladeira abaixo, em
meio a cascalhos e pedras, misturando suor com poeira e sangue. Quando parou de
rolar, já perto dos companheiros de golo, sentiu uma friagem na barriga. Antes
de abrir a camisa, exclamou suplicante para os companheiros:
-
Aí, meu Deus! Tomara que seja sangue!...
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