Tõingalo
era homem letrado. Aprendera sozinho quase tudo o que sabia de leitura. E
viciou-se em palavras cruzadas. Mas, aliado a esse vício, tinha outro. Consumidor
de cachaça de alambique, tão farta em Tabuí. Num certo dia ele teve que viajar
às pressas pra Bambuí. O estoque de palavras cruzadas acabara e não deu tempo
de fazer encomenda das revistinhas. Teve que viajar sem o passatempo predileto.
Ao
pegar o trem, um misto de cargas, bois e passageiros, Tõingalo, já com umas
canjibrinas na cuca, achou lugar vago ao lado de uma moça bem bonita, tão branquela
quanto ele. Sentou no banco e a moça
tira da bolsa o quê? Isso mesmo, uma revistinha de palavras cruzadas. E começou
a preencher sua revistinha sem dar o mínimo de atenção ao Tõingalo. Ele, com
angústia, sofrendo com o descaso dela que não pedia nem uma ajudazinha, começou
a suar e a exalar cheiro de suor nervoso, misturado com o bafo da pinga.
Com o
efeito da mardita aumentando, Tõingalo foi avermelhando. Vendo a moça progredir
nas palavras cruzadas, curioso demais da conta, foi encostando-se nela pra
conseguir ler o que ela escrevia. Esquivar-se e espremer-se contra a parede do
carro, até mais não poder, de nada adiantou. Quando não havia mais nenhum
espaço entre os dois, o Tõingalo quase no colo da vizinha, ela não aguentou o
comportamento e a catinga do companheiro de viagem. Olhou pra ele e tascou:
- Vermelho
e fedido...
Ao
que Tõingalo, pensando que ela estivesse pedindo ajuda, aliviado, prontamente
respondeu:
- Se
fô com cinco letra, tá no papo: é fiofó!...
Um comentário:
Feliz Ano Novo.
Muita paz.
Saude.
Beijos
Postar um comentário