Joaquinzão tava injuriado da vida com a mulher. Sentindo-se
desautorizado, humilhado e mal falado por ela. Logo ela, sua cara metade, vivia
a desmenti-lo sistematicamente. Sim, desmenti-lo, pois o nosso herói não
deixava de aumentar uns pontos em cada conto, arregalando os olhos da Esmeralda
a cada vez. E isso o matava de raiva. Quer ver uns exemplos?
- Peguei um dorado de uns vinte
quilo, quaisque duas arroba, lá no Rio Sorongo!
- Rummm!... Doradinho que não passou duns quatro quilinho, - rebateu
Esmeralda pros amigos em volta da mesa.
- Comprei um carro novo que é uma máquina.
- Sai pra lá, Quinzão, quesse fusquinha usado!...
- Diquiri umas vaca raçada, chique no úrtimo...
- Ichhh, Quinzão! Só vaquinha mistiça, uma magrelada de dá dó, qui
nem leite dão...
Aporrinhado com a situação, o Joaquinzão partiu pra cima da
mulher, em noite de confabulação ao pé do ouvido.
- Iscuta aqui, ô muié! Num tô aguentano mais esse negócio docê mi
omilhá na frente dos amigo. Ou ocê fica do meu lado, ou fica calada.
A Esmeralda arregalou os olhos, gaguejou, resmungou e
emudeceu. Passados alguns dias, outra reunião regada a cachaça, cerveja e muita
conversa pra boi dormir. E ele sai com esta:
- Xente, ocêis num imagina a belezura do cavalo que comprei isturdia ali
no Tabuí. Potro novo, mangalarga machadô, um brinco qui valeu uma fortuna.
Niquieu fechei o bicho no currá, ele me istranhô... Joguei o cabresto no pescoço
dele, ele já rifugô... Botei os arreio no lombo da fera, ele pinotiô... E naorica
qui pulei no lombo dele, foi um Deus nos acuda... Pula daqui, pula dali...
Só num caí causdiquê sô bão cavaleiro, e num é carqué cavalinho qui mi dirruba...
Nesse ponto do monólogo, a Esmeralda tava com os olhos tão arregalados
que até brilhavam exageradamente. E Joaquinzão, apenas deu uma olhada pra ela,
assim de esgueio, e continuou.
- Acontece qui o bicho marcô no rumo da portera veia e rebentô ela
todinha, saino em disparada pelo pasto a fora... Chegano na divisa ca fazenda do
meu vizim, o bicho simplesmente passou direto purriba da cerca de arame
farpado... Na frente tinha o rio e pensei “isso pára o trem”. Qui parô qui
nada!.. Ele sartô nágua e meteu os peitos na correnteza, sem medo, passano até
purriba de jacaré... E eu no lombo do bicho... Do outro lado, lá tinha um mato
fechado qui tamém num sigurô o danado. Foi só espinho rasgano meus braço, lanhano
minhas carne e gaiada bateno na cara, me dano sopapo... E eu firme, purquê sô
bâo cavalero, sô!...
Nisto, ele vira pra mulher, quietinha num canto, com um pano de prato
escondendo parte do rosto, e pergunta:
- É mintira muié?
- Não, sô!... É verrrdaaaade!... Cê num lembra quieu tava na garupa,
uai!?...
Nenhum comentário:
Postar um comentário