13/03/2013

MULHER QUE SOBE NA GARUPA




Joaquinzão tava injuriado da vida com a mulher. Sentindo-se desautorizado, humilhado e mal falado por ela. Logo ela, sua cara metade, vivia a desmenti-lo sistematicamente. Sim, desmenti-lo, pois o nosso herói não deixava de aumentar uns pontos em cada conto, arregalando os olhos da Esmeralda a cada vez. E isso o matava de raiva. Quer ver uns exemplos?
 - Peguei um dorado de uns vinte quilo, quaisque duas arroba, lá no Rio Sorongo!
 - Rummm!... Doradinho que não passou duns quatro quilinho, - rebateu Esmeralda pros amigos em volta da mesa.
 - Comprei um carro novo que é uma máquina.
 - Sai pra lá, Quinzão, quesse fusquinha usado!...
 - Diquiri umas vaca raçada, chique no úrtimo...
 - Ichhh, Quinzão! Só vaquinha mistiça, uma magrelada de dá dó, qui nem leite dão...
   Aporrinhado com a situação, o Joaquinzão partiu pra cima da mulher, em noite de confabulação ao pé do ouvido.
  - Iscuta aqui, ô muié! Num tô aguentano mais esse negócio docê mi omilhá na frente dos amigo. Ou ocê fica do meu lado, ou fica calada.
   A Esmeralda arregalou os olhos, gaguejou, resmungou e emudeceu. Passados alguns dias, outra reunião regada a cachaça, cerveja e muita conversa pra boi dormir. E ele sai com esta:
- Xente, ocêis num imagina a belezura do cavalo que comprei isturdia ali no Tabuí. Potro novo, mangalarga machadô, um brinco qui valeu uma fortuna. Niquieu fechei o bicho no currá, ele me istranhô... Joguei o cabresto no pescoço dele, ele já rifugô... Botei os arreio no lombo da fera, ele pinotiô... E naorica qui pulei no lombo dele, foi um Deus nos acuda... Pula daqui, pula dali... Só num caí causdiquê sô bão cavaleiro, e num é carqué cavalinho qui mi dirruba...
Nesse ponto do monólogo, a Esmeralda tava com os olhos tão arregalados que até brilhavam exageradamente. E Joaquinzão, apenas deu uma olhada pra ela, assim de esgueio, e continuou.
- Acontece qui o bicho marcô no rumo da portera veia e rebentô ela todinha, saino em disparada pelo pasto a fora... Chegano na divisa ca fazenda do meu vizim, o bicho simplesmente passou direto purriba da cerca de arame farpado... Na frente tinha o rio e pensei “isso pára o trem”. Qui parô qui nada!.. Ele sartô nágua e meteu os peitos na correnteza, sem medo, passano até purriba de jacaré... E eu no lombo do bicho... Do outro lado, lá tinha um mato fechado qui tamém num sigurô o danado. Foi só espinho rasgano meus braço, lanhano minhas carne e gaiada bateno na cara, me dano sopapo... E eu firme, purquê sô bâo cavalero, sô!... 
Nisto, ele vira pra mulher, quietinha num canto, com um pano de prato escondendo parte do rosto, e pergunta:
- É mintira muié?
- Não, sô!... É verrrdaaaade!... Cê num lembra quieu tava na garupa, uai!?... 

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