Naquela tardinha Zizico tomou sua
pinguinha bem ali no bar da esquina e entrou na igreja matriz pruma prece,
enquanto ganhava tempo para a Hora do Angelus. Igreja, pra ele, era terreno
estranho não. Tava sempre lá, ajudando os padres pro que desse e viesse,
fazendo até o papel de sacristão quando preciso era. Só que, naquele dia, no
bar, Zizico deve ter exagerado na quantidade de doses. Só pode. Sentou no banco
da igreja e achou aquele banco duro demais da conta, sem conforto nenhum. Foi
aí que lembrou do confessionário, na lateral da igreja, escurinho, com cadeira
almofadada, próprio para um bom descanso.
- É ali que vô tirá o meu cochilo...
E cochilou mesmo. Quando estava
caminhando pelos jardins do paraíso, em meio a centena de aves coloridas, ouve
um barulho e acorda assustado. Era o juiz de direito ajoelhando-se para a confissão,
supondo que lá dentro estava o Padre Anacleto. Como o Zizico conhecia o beabá
dos padres de cor e salteado, ouviu os pecados do juiz e ainda andou
perguntando algumas coisas sobre as quais ficara na dúvida e outras em que teve
curiosidade.
- Ma Che, figlio mio!... Cê fez isso?
– Imitava o padre Anacleto no seu sotaque italiano.
- Sim, seu padre!
- Cê teve corage, figlio?
- Infelizmente, padre!
- Porcamiseria!...
Quando Zizico concluiu que
tinha entendido tudo e que nada mais havia a perguntar, cascou uma penitência
no juiz de uma dúzia de Pai Nossos misturados com Ave Marias, além do credo em
latim e deu-lhe a absolvição, também em latim. Não sem antes ordenar ao juiz
que fosse lá para o banco da frente, abaixasse a cabeça e fechasse bem os olhos
por dez minutos. Foi o tempo que Zizico teve para cair fora da igreja levando
consigo os pecados do juiz, nunca a ninguém revelados. (Causo contado por Maria
Auxiliadora Guimarães, de Bambuí-MG)
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