14/03/2013

SEGREDOS DE CONFESSIONÁRIO




Naquela tardinha Zizico tomou sua pinguinha bem ali no bar da esquina e entrou na igreja matriz pruma prece, enquanto ganhava tempo para a Hora do Angelus. Igreja, pra ele, era terreno estranho não. Tava sempre lá, ajudando os padres pro que desse e viesse, fazendo até o papel de sacristão quando preciso era. Só que, naquele dia, no bar, Zizico deve ter exagerado na quantidade de doses. Só pode. Sentou no banco da igreja e achou aquele banco duro demais da conta, sem conforto nenhum. Foi aí que lembrou do confessionário, na lateral da igreja, escurinho, com cadeira almofadada, próprio para um bom descanso.
- É ali que vô tirá o meu cochilo...
E cochilou mesmo. Quando estava caminhando pelos jardins do paraíso, em meio a centena de aves coloridas, ouve um barulho e acorda assustado. Era o juiz de direito ajoelhando-se para a confissão, supondo que lá dentro estava o Padre Anacleto. Como o Zizico conhecia o beabá dos padres de cor e salteado, ouviu os pecados do juiz e ainda andou perguntando algumas coisas sobre as quais ficara na dúvida e outras em que teve curiosidade.
- Ma Che, figlio mio!... Cê fez isso? – Imitava o padre Anacleto no seu sotaque italiano.
- Sim, seu padre!
- Cê teve corage, figlio?
- Infelizmente, padre!
- Porcamiseria!...
      Quando Zizico concluiu que tinha entendido tudo e que nada mais havia a perguntar, cascou uma penitência no juiz de uma dúzia de Pai Nossos misturados com Ave Marias, além do credo em latim e deu-lhe a absolvição, também em latim. Não sem antes ordenar ao juiz que fosse lá para o banco da frente, abaixasse a cabeça e fechasse bem os olhos por dez minutos. Foi o tempo que Zizico teve para cair fora da igreja levando consigo os pecados do juiz, nunca a ninguém revelados. (Causo contado por Maria Auxiliadora Guimarães, de Bambuí-MG)

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