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04/06/2014

QUEM CANTA SEUS MALES, ESPANTA


 - Môôô, mó quiocê num gosta do meu canto?
     Era a bela Maricleusa, reclamando pro coitado do marido, assim no finalzinho da tarde, quando ela ia tomar banho e começava a cantoria diária. Voz de taquara rachada, tentando cantar os insucessos mais modernos. O Dantão, homem da paz, discreto e calado, sempre saía do quarto e ia pra varanda – do outro lado da casa - sem falar nada. Mas o que ele não queria mesmo era magoar a mulher, reclamando dela, por obrigá-lo a – todos os dias – ouvir aquele martírio.
     - Querida, gosto do seu canto sim. Ainda mais que sei quiocê canta só pra mim.
     - Então, mô, causdiquê toda vez quieu canto cê sai do quarto?
    - Meu bem... É por causa da vizinhança. Cê sabe cumé quié esse povim de Tabuí, né? Não quero que pensem que tô judiano docê...
©By Eurico de Andrade, in Tabuí e seus Causos  https://www.facebook.com/causos e http://tabui.blogspot.com.br/

10/05/2013

BRIGA ATRASADA



O delegado de polícia numa cidade pequena às vezes tem que dar uma de psicólogo, outras vezes de conselheiro e poucas de autoridade mesmo. Vejam o caso da dona Prazeres, cujo casamento, pelo jeito, não tava mais dando prazer nenhum.
- Dona Prazeres, por que a senhora meteu a mão de pilão na cabeça do seu marido?
- Ó, sô delegado!... Tem dois ano quiele me chamô de popóta!... E onte levô o troco.
- Mas, dona Prazeres, depois de dois anos? Por que a senhora esperou tanto tempo?
- É que onte é quieu cheguei no Tabuí... Tava no Belzonte... E lá ieu fui no zoológico. E vi o que é uma hipopóta....

13/03/2013

MULHER QUE SOBE NA GARUPA




Joaquinzão tava injuriado da vida com a mulher. Sentindo-se desautorizado, humilhado e mal falado por ela. Logo ela, sua cara metade, vivia a desmenti-lo sistematicamente. Sim, desmenti-lo, pois o nosso herói não deixava de aumentar uns pontos em cada conto, arregalando os olhos da Esmeralda a cada vez. E isso o matava de raiva. Quer ver uns exemplos?
 - Peguei um dorado de uns vinte quilo, quaisque duas arroba, lá no Rio Sorongo!
 - Rummm!... Doradinho que não passou duns quatro quilinho, - rebateu Esmeralda pros amigos em volta da mesa.
 - Comprei um carro novo que é uma máquina.
 - Sai pra lá, Quinzão, quesse fusquinha usado!...
 - Diquiri umas vaca raçada, chique no úrtimo...
 - Ichhh, Quinzão! Só vaquinha mistiça, uma magrelada de dá dó, qui nem leite dão...
   Aporrinhado com a situação, o Joaquinzão partiu pra cima da mulher, em noite de confabulação ao pé do ouvido.
  - Iscuta aqui, ô muié! Num tô aguentano mais esse negócio docê mi omilhá na frente dos amigo. Ou ocê fica do meu lado, ou fica calada.
   A Esmeralda arregalou os olhos, gaguejou, resmungou e emudeceu. Passados alguns dias, outra reunião regada a cachaça, cerveja e muita conversa pra boi dormir. E ele sai com esta:
- Xente, ocêis num imagina a belezura do cavalo que comprei isturdia ali no Tabuí. Potro novo, mangalarga machadô, um brinco qui valeu uma fortuna. Niquieu fechei o bicho no currá, ele me istranhô... Joguei o cabresto no pescoço dele, ele já rifugô... Botei os arreio no lombo da fera, ele pinotiô... E naorica qui pulei no lombo dele, foi um Deus nos acuda... Pula daqui, pula dali... Só num caí causdiquê sô bão cavaleiro, e num é carqué cavalinho qui mi dirruba...
Nesse ponto do monólogo, a Esmeralda tava com os olhos tão arregalados que até brilhavam exageradamente. E Joaquinzão, apenas deu uma olhada pra ela, assim de esgueio, e continuou.
- Acontece qui o bicho marcô no rumo da portera veia e rebentô ela todinha, saino em disparada pelo pasto a fora... Chegano na divisa ca fazenda do meu vizim, o bicho simplesmente passou direto purriba da cerca de arame farpado... Na frente tinha o rio e pensei “isso pára o trem”. Qui parô qui nada!.. Ele sartô nágua e meteu os peitos na correnteza, sem medo, passano até purriba de jacaré... E eu no lombo do bicho... Do outro lado, lá tinha um mato fechado qui tamém num sigurô o danado. Foi só espinho rasgano meus braço, lanhano minhas carne e gaiada bateno na cara, me dano sopapo... E eu firme, purquê sô bâo cavalero, sô!... 
Nisto, ele vira pra mulher, quietinha num canto, com um pano de prato escondendo parte do rosto, e pergunta:
- É mintira muié?
- Não, sô!... É verrrdaaaade!... Cê num lembra quieu tava na garupa, uai!?...