16/03/2013

MOVIMENTO DE MADRUGADA




Altas horas da madrugada, cambaleando rua a fora, vai o Cirino. Bêbado, mas lúcido. A grana andava tão curta que nem jeito de ficar bêbado completo ele tinha.  Assim que passa pela esquina da Rua do Assobio com o arremedo de praça que Tabuí tem, Cirino vê movimento estranho e resolve espiar o que acontecia. Casa cheia de gente. Cirino logo pensa em pinga grátis. Era velório.

Entra e fica num cantinho, ressabiado, assuntando, apreciando o movimento. Foi quando ouve um comentário:

- Gente, vamo fazê uma vaquinha pra gente comprá uns trem pra cumê e bebê?

- É memo, sô! Vamo fazê causdiquê da casa num vai saí nada não. A situação tá braba.

E começa alguém a passar um chapéu, aonde os visitantes iam colocando os trocados. Cirino já alegrinho, pensando na pinga que iria chegar. Quando o chapéu passa perto da viúva, ela ia colocar duas notas de dois reais. O moço do chapéu não aceitou de jeito nenhum:

- Não, dona viúva! A senhora num picisa... Já entrô cu difunto!...

A viúva, emocionada com o gesto dos amigos do falecido, põe-se a reclamar da vida:

- Tadim do Gripino, gente! Vaimbora pra sempre... Prum lugá fechado... Moiado... Iscuro... Ondé qui nem tem o de cumê!...

Cirino ficou tão incomodado com aquilo que nem quis mais esperar a pinga e os comes.

- Ê-Ê!... Tá pareceno quiela tá quereno levá o falicido lá pra casa, uai!... Eu, heim!...

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