Naquele
tempo, ali bem do outro lado da ponte do João Miguel, ninguém gostava de passar
à noite. No mato que circulava a ponte, assombração era mato. De tudo quanto é
jeito. Corria até história de que naquelas estradas e no meio do cerrado lá
mais pra cima, aparecia o tal do lençol fantasma. No princípio, em noites de
lua cheia e, depois, em tempo de qualquer lua. Tretou, relou, tava lá o lençol se
chacoalhando pralgum transeunte desavisado e pondo muita gente a borrar de
medo.
Foi
bem nessa época que rolava um namoro de gente da banda de lá com gente da banda
de cá, do córrego. O Mozar namorava com a Cida e o Zair com a Deja. Os dois de
lá, as duas de cá. Quando iam pro namoro, finalzinho de tarde, nenhum problema.
Mas, na volta, encerravam o conversê com hora marcada e várias vezes combinada
e iam embora os dois, quase que de mãos dadas. Ao passar na ponte, era um
sugigando o outro, de tanto medo. Em algumas noites passavam a ponte um de
costas pro outro, assim bem encostadinhos, para cada um vigiar a traseira do companheiro
e não serem surpreendidos pelo lençol fantasma.
Mas
aconteceu que numa noite o namoro do Mozar demorou mais um tiquim e o Zair, com
vergonha de chamar o amigo, se mandou numa correria desenfreada. Sofrimento
grande. Mesmo assim, olhando pro chão, até chegar em casa, conseguiu ficar feliz
por não ter visto o lençol fantasma. Mas aí, resolveu aprontar vingança pro
companheiro. O Zair pegou lençol emprestado com a tia Fiíca, amarrou uma
cordinha na ponta do lençol branquinho e o botou do lado de cima da estrada. E
ficou do lado de baixo, atrás da moita, esperando.
Quando
a cachorrada lá da casa do Taviano latiu, o Zair teve certeza:
- Ele
envem! Mozar envem!...
Quando
ele se aprontava para puxar a corda e fazer o lençol se levantar para assustar
o Mozar, deu uma olhadinha pra trás. Foi aí que todos os cabelos do corpo se
arrepiaram. Assim bem atrás dele, tinha um lençol estendido no ar, branquinho,
mais branco do que nuvem sem chuva, dando uma chacoalhada de vez em quando.
Zair teve que dar a segunda corrida da noite e chegou bufando à casa da Fiíca,
quase morto de medo. Antes do Mozar chegar, tranquilo e serelepe, ainda pode
ouvir o Zair dando explicações:
- Ó,
tia, só num caguei pra mode que num tinha bosta pronta, sá!... Fazê sombração
pro zoto? Nunca mais!...
(Causo enviado pela amiga Gilda Corrêa, bambuiense que mora em Uruaçu-GO)
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