01/02/2013

O FANTASMA DA PONTE




Naquele tempo, ali bem do outro lado da ponte do João Miguel, ninguém gostava de passar à noite. No mato que circulava a ponte, assombração era mato. De tudo quanto é jeito. Corria até história de que naquelas estradas e no meio do cerrado lá mais pra cima, aparecia o tal do lençol fantasma. No princípio, em noites de lua cheia e, depois, em tempo de qualquer lua. Tretou, relou, tava lá o lençol se chacoalhando pralgum transeunte desavisado e pondo muita gente a borrar de medo.

Foi bem nessa época que rolava um namoro de gente da banda de lá com gente da banda de cá, do córrego. O Mozar namorava com a Cida e o Zair com a Deja. Os dois de lá, as duas de cá. Quando iam pro namoro, finalzinho de tarde, nenhum problema. Mas, na volta, encerravam o conversê com hora marcada e várias vezes combinada e iam embora os dois, quase que de mãos dadas. Ao passar na ponte, era um sugigando o outro, de tanto medo. Em algumas noites passavam a ponte um de costas pro outro, assim bem encostadinhos, para cada um vigiar a traseira do companheiro e não serem surpreendidos pelo lençol fantasma.

Mas aconteceu que numa noite o namoro do Mozar demorou mais um tiquim e o Zair, com vergonha de chamar o amigo, se mandou numa correria desenfreada. Sofrimento grande. Mesmo assim, olhando pro chão, até chegar em casa, conseguiu ficar feliz por não ter visto o lençol fantasma. Mas aí, resolveu aprontar vingança pro companheiro. O Zair pegou lençol emprestado com a tia Fiíca, amarrou uma cordinha na ponta do lençol branquinho e o botou do lado de cima da estrada. E ficou do lado de baixo, atrás da moita, esperando.

Quando a cachorrada lá da casa do Taviano latiu, o Zair teve certeza:

- Ele envem! Mozar envem!...

Quando ele se aprontava para puxar a corda e fazer o lençol se levantar para assustar o Mozar, deu uma olhadinha pra trás. Foi aí que todos os cabelos do corpo se arrepiaram. Assim bem atrás dele, tinha um lençol estendido no ar, branquinho, mais branco do que nuvem sem chuva, dando uma chacoalhada de vez em quando. Zair teve que dar a segunda corrida da noite e chegou bufando à casa da Fiíca, quase morto de medo. Antes do Mozar chegar, tranquilo e serelepe, ainda pode ouvir o Zair dando explicações:

- Ó, tia, só num caguei pra mode que num tinha bosta pronta, sá!... Fazê sombração pro zoto? Nunca mais!...

(Causo enviado pela amiga Gilda Corrêa, bambuiense que mora em Uruaçu-GO)

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