Policarpo era considerado intragável pelos colegas de repartição
da prefeitura. Chato, encrenqueiro, mal humorado e mais umas outras qualidades
que não vou citar. Vez ou outra inventava uns bolões que, segundo ele, cercava
todas as opções de se ganhar na Megasena. Com este argumento ele praticamente
obrigava os colegas a fazerem uma fezinha nos seus palpites. Tinha convicção de
que um dia a sorte grande o atingiria.
Colegas viviam de saco cheio com Polica – seu único apelido
carinhoso – pela sua fixação na Megasena e por mais uns vinte e sete outros
defeitinhos. Aí, um dia, resolveram aprontar com o mancebo para vingarem anos e
anos de sofrimento. Era uma bolada das maiores e alguém, sabedor dos números
que Polica sempre jogava, apresentou aqueles números como sendo o resultado do
sorteio. O pobre homem arregalou os olhos, bambeou as pernas, teve suadeira e
taquicardia, mas permaneceu em silêncio. Quando recuperou um pouco a cor e os
ânimos, pegou o guarda-chuva, botou o chapéu, engoliu em seco e gaguejou:
- Ge-gente, piciso dá uma saidi-dinha...
- Onquié quiocé vai, sô?
- Vô ali um ti-ti-quim e vorto já-já!
A turma, séria, conhecedora da história, se segurava para não
cair na gargalhada. O que aconteceu, mal ele saiu. Polica deu uma passadinha
pela praça, sentou no banco, fez uma horinha, confabulou com seus botões como
que para colocar os pensamentos em ordem e foi à lotérica, pronto para dar
calote nos companheiros de bolão. Queria conferir o resultado, para ter certeza
de que era só ele o ganhador e, portanto, o homem mais rico de Tabuí e das
redondezas.
Um fiasco só. Decepção total, a informação passada pela moça da
lotérica. Aí foi que Policarpo entendeu a história. Não deu outra. Chegou à
repartição puto da vida e gastou todos os xingamentos do dicionário, que
conhecia muito bem. Daquele dia em diante Polica nunca mais falou em bolão e
nem em loteria com a cambada do trabalho.
Um comentário:
Nhô, essas figuras espertalhonas e chatas existem aos montes. Polica é mais um.
Olhe, eu sempre achei que a sorte mora em Tabuí. Eu é que moro longe da sorte.
Abração para o amigo e família.
Leila
Postar um comentário