O Raimundo Barbeiro, como o próprio nome
indica, era o barbeiro mais afamado de Tabuí. Isso quando tava são, pois, na
maioria das vezes, vivia trolado. Aí, se facilitasse, Raimundo fazia desfeita e
tratava de forma deselegante a clientela. Não por maldade, mas por não saber o
que estava fazendo.
Certo dia chegaram ao mesmo tempo dois
clientes. Um da cidade, o Antão, e o outro, um forasteiro que ninguém conhecia.
O Antão, vendo que o Raimundo tava chapado, já conhecendo a fama, resolveu
fazer uma graça com o que veio de fora e cedeu-lhe a vez. Mas não foi embora
não. Ficou por ali, como quem não quer nada, para ver no que ia dar o serviço.
O homem tinha o rosto cheio de entrâncias e saliências e, como decerto não
tinha os dentes de trás, seu rosto era chupado. O Raimundo, cambaleante em
torno do cliente, botou a cuca pra funcionar à procura de uma forma de
descobrir como fazer bem feita a barba do homem. E pensou com seus botões: “com
a cara desse jeito, cheia dessa buraquera, tá pió do que a estrada que vai pra
Tapiraí, uai”.
Chapado como estava, Raimundo só viu uma
solução. Como não conseguia passar a lâmina de barbear nos buracos do rosto do
homem, enfiou um dedo na boca dele a fim de empurrar a pele pra fora e passar a
lâmina. Não teve apelo. O forasteiro subiu nas tamancas e ficou bravo.
- Seu fio
da mãe! Disgraçado! Cumé quiocê infia esse dedo sujo e catinguento na minha
boca desse jeito?
Ao que o Raimundo responde na maior calma:
- É só pra mode fazê as bochecha, sô!
Só não houve morte dentro da barbearia porque o
Antão, que era bem grandão, resolveu botar ordem no pedaço, o que acalmou o
forasteiro.
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