Durante minha carreira de
pescador, especializei-me na pesca de traíras. Vinte, trinta e até quarenta
linhadas armadas nas beiradas mais sujas da represa, no meio de capituvas. A
grande dificuldade sempre foi arranjar tanta isca para tanta armadilha. Certa
vez, estava eu tentando pegar uns lambaris, que é sempre a melhor isca pra
traíra, ali no Aterro dos Castilhanos, do lado oposto ao de Santa Quitéria, e
nada de pegar uma isquinha sequer. Já estava quase desistindo, quando ouvi o
ruído de seixos rolando barranco abaixo, bem nas minhas costas. Ao me virar, vi
uma cobra passando atrás de mim, com um pequeno sapo na boca. Não pensei duas
vezes. Num bote preciso, agarrei a cobra pelo pescoço e, pressionando a boca dela,
roubei-lhe o sapinho que também é uma boa isca.
Antes de soltar o bicho,
despejei uma boa talagada da pinga Providência - que eu trouxera de uma viagem
que fizera a Tabuí, no mês anterior - goela abaixo dela. Não pense mal de mim.
A pinguinha que levava era para tirar a friagem depois de ter que me enfiar na
água para tirar as linhadas enroscadas nas galhadas. Peguei o sapo, isquei com
ele uma linhada e lancei na beirada das moitas, dentro da represa.
Depois de meia hora de muita
tentativa de pegar mais iscas, eis que sinto um leve cutucão nas minhas
costas. Ao me virar deparei com três cobras me olhando fixamente,
cada uma com um sapinho na boca.
(Causo recolhido e escrito por Joaquim da Silva Junior, de Carmo do Rio Claro-MG)
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