24/04/2013

PIMENTA NO NOSSO TAMBEM FUNCIONA




Totonho da Marianica mora na zona rural de Tabui, umas duas léguas do centro urbano, num sitiozinho bem ajambrado, lá onde o Sorongo faz uma curva, no sopé da serra do Urubu. Leva uma vida tranquila, sobrevivendo do que lhe dá a terra: arroz, feijão, milho, batata, abóbora, mandioca. Tudo plantado, e colhido na época certa. Um pomar com abundância de frutas. Ainda por cima, uns porquinhos de engorda, e as galinhas que produzem ovos e frango caipira à vontade. Afim de arrumar uns trocados para pagar suas contas, e abastecer o sitio de suas necessidades, todo domingo, lá vai o Totonho participar da feira na cidade. Quando tem muita coisa para levar, enche a carroça, atrelada ao burrico, seu velho companheiro de muitas lidas. Quando a produção é escassa, os frangos, piados, vão dependurados na cabeça do arreio, e os outros produtos enchem dois jacás de cada lado da montaria. E lá se vai o Totonho no lombo do Jurumela, o seu burrico.

Naquele domingo aconteceu o inesperado. Chegando na entrada da cidade, o Jurumela empacou  e não teve como arredar o bicho do lugar. Nem com carinho, nem com violência. Meio desesperado, Totonho foi pedir ajuda. 

 - Óia, Totonho, cê tá cum  sorte. Tá veno aquela casa cum a  loja ali no começo da rua? É dum dotô veterinário qui chegô aqui fais poco tempo. Ele intendi de animar, e podi ti ajudá, homi. 

 - O que o senhor deseja, seu moço? - pergunta o veterinário, ao abrir a porta de casa.

 - Negósiguim, dotô. Tô cum burro impacado ali na entrada da cidade, e disseru qui o sinhô tem remedim presse inguiço. 

 - Pra tudo dá-se um jeito, meu senhor. Pra animal empacado, o remédio é este aqui. Pega estes dois tipos de pimenta. Esta daqui é mais fraquinha, e esta outra é bem braba. O senhor chega lá, levanta o rabo  do animal, e enfia no fiofó dele esta que é a mais fraca. Deve dar resultado e o bicho vai desempacar. Se falhar, o senhor entra com a outra. Ai, não tem jeito. Vai funcionar.Mas toma cuidado porque o bicho pode sair correndo, e vai dar trabalho para segurar. Muito agradecido, lá se foi o Totonho aplicar o remédio.

Uma semana depois, estava lá o Totonho gerenciando sua banca de feira, quando foi reconhecido pelo veterinário, carregando uma sacola de frutas e verduras. 

 - E aí, moço? Resolveu o problema do burro empacado?

 - Resorvê até qui resorvi, mais teve um pobreminha. 

 - Que é que aconteceu?
    - Poisé, eu fiz quinem o sinhô mandô. Peguei a pimenta mais suave e infiei no rabo do burro. O bicho saiu numa  correria danada, e se eu num uso a otra pimenta no meu, tava campiano o danado inté hoje.


(Causo "garimpado" em Carmo do Rio Claro-MG pelo pesquisador Joaquim da Silva Junior)

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