Lá no Tabuí apareceu o tal do café pendente. Foi
o Juca Soberbo, o dono da padaria, que inventou o troço. Dizia ele que foi um
freguês, amigo do Padre Anacleto, que viera da Itália, e deu-lhe a ideia. O
Juca gostava de propagar sua novidade e dizia todo orgulhoso:
- Ó, in Sumpaulo, não deu certo e nem in
Belzonte. Só deu certo em duas cidades importantes do mundo, Veneza e Tabuí. E,
óia, lá no Bambuí e no Tapiraí tão quereno cupiá minha ideia!... Vão chamá “café
do próximo”...
Com uma propaganda dessas, o café pendente tava
vendendo quinem água. Coisa simples. Quem chegava e tomava um cafezinho podia,
por opção, deixar outro pago pra quem viesse sem dinheiro e quisesse, também, adoçar
a boca. E ia ao quadro negro, preso à parede e escrevia seu nome e quantos
cafés pendentes deixava pago. Nesse ponto todo mundo sabia que o Juca Soberbo não
trapaceava pois que era homem direito.
A coisa ficou tão bem feita, já que
administrada pelo competente padeiro, que vinha gente de longe tomar um
cafezinho e deixar outro pago. E, também, vinha gente de longe para ganhar um
cafezinho pendente, em tempos de grana curta.
- Sô Juca! Tem café pendente?
- Tem fio! Povincá!...
Isto ele dizia depois de conferir lá no quadro
negro e, assim que servia ao freguês, apagava a anotação referente àquele café.
Tudo muito controlado e muito direito.
Mas como tudo que é bom dura pouco, o café
pendente deu errado. Foi quando o prefeito, ante a visão de ganhar votos com a
ideia, resolveu instituir na padaria do Juca Soberbo a pinga pendente. Sabedor de
que Tabuí tinha a maior concetração de bebuns do país por metro quadrado, o
prefeito pensou “é mais um mandato no papo”, “ainda mais agora que anarfabeto
tamém vota”... E, propôs-se, ao fim de cada mês, pagar as pingas que fossem
bebidas lá como pinga pendente.
Aí, o que aconteceu? A padaria do Juca virou um
antro de bebuns e o povo deixou de comprar pão e de pagar o café pendente. E o padeiro,
nos dois meses em que vendeu a pinga pendente, não recebeu um centavo. Nem do
prefeito e nem da prefeitura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário