22/04/2013

CAFÉ PENDENTE




Lá no Tabuí apareceu o tal do café pendente. Foi o Juca Soberbo, o dono da padaria, que inventou o troço. Dizia ele que foi um freguês, amigo do Padre Anacleto, que viera da Itália, e deu-lhe a ideia. O Juca gostava de propagar sua novidade e dizia todo orgulhoso:
- Ó, in Sumpaulo, não deu certo e nem in Belzonte. Só deu certo em duas cidades importantes do mundo, Veneza e Tabuí. E, óia, lá no Bambuí e no Tapiraí tão quereno cupiá minha ideia!... Vão chamá “café do próximo”...
Com uma propaganda dessas, o café pendente tava vendendo quinem água. Coisa simples. Quem chegava e tomava um cafezinho podia, por opção, deixar outro pago pra quem viesse sem dinheiro e quisesse, também, adoçar a boca. E ia ao quadro negro, preso à parede e escrevia seu nome e quantos cafés pendentes deixava pago. Nesse ponto todo mundo sabia que o Juca Soberbo não trapaceava pois que era homem direito.
A coisa ficou tão bem feita, já que administrada pelo competente padeiro, que vinha gente de longe tomar um cafezinho e deixar outro pago. E, também, vinha gente de longe para ganhar um cafezinho pendente, em tempos de grana curta.
- Sô Juca! Tem café pendente?
- Tem fio! Povincá!...
Isto ele dizia depois de conferir lá no quadro negro e, assim que servia ao freguês, apagava a anotação referente àquele café. Tudo muito controlado e muito direito.
Mas como tudo que é bom dura pouco, o café pendente deu errado. Foi quando o prefeito, ante a visão de ganhar votos com a ideia, resolveu instituir na padaria do Juca Soberbo a pinga pendente. Sabedor de que Tabuí tinha a maior concetração de bebuns do país por metro quadrado, o prefeito pensou “é mais um mandato no papo”, “ainda mais agora que anarfabeto tamém vota”... E, propôs-se, ao fim de cada mês, pagar as pingas que fossem bebidas lá como pinga pendente.
Aí, o que aconteceu? A padaria do Juca virou um antro de bebuns e o povo deixou de comprar pão e de pagar o café pendente. E o padeiro, nos dois meses em que vendeu a pinga pendente, não recebeu um centavo. Nem do prefeito e nem da prefeitura.
- Coisisquisita, sô! Quandefé eu quiria ajudá e fiz foi perdê voto!... – lamentava-se o prefeito.

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