05/04/2013

O TESOURO DO BURACO DE TATU





- Celeste, deixa o Taviano í pescá Ca gente, sá!
- Deixo não! Ele vai é inchê a cara junto cocêis! Pode não!
- Mas, sá! A gente nem vamo levá pinga não, uai!
A insistência foi tanta que dona Celeste não teve mais como negar. A preocupação dela tinha procedência. Otaviano bebera tanto na juventude que, com pouco mais de 40 anos, já tava com começo de cirrose. Celeste vigiava-o pra tudo quanto é canto para que ele não mais colocasse um copo de cangebrina na boca. Mas, pescar, era a sua grande paixão e foi isso que deixou mole o coração da mulher.
- Intão, cês num leva bebida e vigia a capanga dele...
- Tá bão, Celeste. A gente vamo fazê isso.
Mas, apesar de tanta insistência, não ficaram sem levar bem escondida, uma garrafa da cachaça Providência. Chegando à beira do córrego, pensaram, pensaram e resolveram esconder a coisa num buraco de tatu. Acharam um, enfiaram a garrafa bem pro fundo e tamparam tudo com folhas secas, na certeza de que o Taviano jamais acharia o tesouro naquele lugar. E foram pescar. De vez em quando um dos companheiros sumia. O destino era o buraco do tatu e a pinguinha diminuindo na garrafa.
Numa certa hora, descobriram que o Taviano não estava no meio deles. Sumira. Procura daqui, procura dali, acharam o homem dormindo debaixo de uma gameleira. Ao acordar, notaram que ele tinha bebido. Tudo.
- Você bebeu, Taviano!... Cumé quiocê achô a pinga, home de Deus?
- Uai, sô! Cês num sabe que gambá chera gambá?

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