Mardoqueu
resolveu ir embora de Tabuí. Seu sonho era comprar terra num cantinho de Minas,
o mais perto possível de São Paulo. Queria, da sua fazenda, ver como os
paulistas se arrumavam para fazer as coisas. E conseguiu, lá no biquinho de
baixo do Estado, achar uma fazendinha cuja cerca, que confrontava com a fazenda
do vizinho, era também a divisa dos dois estados.
O vizinho, o
Cirineu, um cara papudo e metido, no dizer de Mardoqueu, plantava melancias cuja
produção era toda vendida na capital paulista. Coisa granfina mesmo. O
tabuiense viu aquilo e pensou: “tamém vô prantá melancia, uai!”...
As lavouras
dos dois passaram a misturar as divisas. E bem debaixo da cerca foi que cresceu
a melancia maior de todas. E com aquele monte de ramas passando de um lado pro
outro, os dois fazendeiros não se entenderam sobre quem seria o dono da peça.
- É claro que
é minha, ô meu!
- Sua? Uai!...
Causdiquê?
E a briga foi
esquentando por vários dias. Veio gente de fora pra dar opinião, mas nenhum dos
dois aceitava palpite de fora. Até que o Cirineu teve uma ideia. Indecente
ideia, diga-se de passagem, após muita ingrizia.
- A gente faz
um troca-troca, ô meu! Na hora do trem, se dói, aquele que gritar mais alto
fica sem a melancia.
- Ieu topo,
uai! Dêsqui eu te pegue primeiro... Cê topa?
Sendo tudo
topado e bem acordado, inclusive com a garantia da ausência de testemunhas, eis
que chega a hora do pega pra capar. Tá lá o Cirineu se ajeitando, já de quatro,
certo de segurar o grito, pensando “se eu abrir a boca nem que seja pra
reclamar, fico sem minha melancia!...”
O Mardoqueu
não deixou por menos. Mandou ver e ainda deu uns fungados no cangote do vizinho.
Ao concluir o ao que veio, Mardoqueu foi logo vestindo a roupa e o Cirineu
estrilou.
- Ô meu!
Agora é minha vez! Pode baixar aí!
- Uai, sô! Tô
quereno isso mais não... Cê pó ficá ca minha melancia, viu?... Eu nem gosdisso!
Já injuei!...
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