O Padre Olindo viera a Tabuí substituir
o Padre Anacleto nas férias. Trabalhou muito e deixou marcas na cidade e,
segundo as más línguas, descendência. Como era novo, cheio de energia, resolveu
fazer o seu trabalho apenas de bicicleta. Ia pra todos os cantos do município
pedalando, no que era acompanhado pelo sacristão, a cavalo. Missas, batizados,
primeira comunhão, encomendamento de defunto, lá tavam os dois, nos seus
respectivos meios de transporte, seja no Ingazeiro ou na Caatinga, no Capão dos
Óculos, na Mata ou na Perdição e até no Chapadão. Vez por outra chegava o padre
bem primeiro que o sacristão. Aí ele aproveitava para ter um contato mais
direto com o povo de Deus. Mas, certo dia, o sacristão exagerou na dose e demorou
demais da conta. Chovera no meio do dia. O Padre Olindo chegara de manhã, antes
da chuva e ficara zanzando por ali, de fazenda em fazenda, enquanto o
sacristão, por causa da enchente, apareceu quase na hora da missa, lá no Sapé. E
chegaram juntos à igrejinha. O sacristão estranha o padre a pé e pergunta:
- Uai, padre, quede a sua bicicreta?
- Ih, rapaz! É mesmo!... Cadê? Acho
que foi roubada!...
- Manépussive, padre! Robada ondé?
- Não sei, rapaz! Não me lembro como
fiquei sem ela...
O sacristão, com a pulga atrás da
orelha, dá um pitaco:
- Tenhumideia pra sabê quem foi, sô
padre. Na hora do sermão, gorica mezzz, o sinhô fala os 10 mandamento. Quando chegá no “Não roubarás”, dá uma paradinha e óia bem no zóio de
cada fiél... O curpado, com certezz, vai ficá muito do sengraça e se denunciá!
Quando terminou a missa, o sacristão
quis logo saber a impressão do padre na hora do sermão.
- Maizomeno, meu filho! Na verdade, quando cheguei ao “Não
desejarás a mulher do próximo” acabei me lembrando de onde deixei a bicicleta!...
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