Ronron Miau até que era homem bom demais da conta.
Nunca foi preso à toa, quando são. O problema era quando ele tomava da
Providência, a caninha de Tabuí, a mais famosa da região. Aí criava coragem e
virava machão, enfrentando qualquer situação.
E foi numa dessas, em penúria, que ele resolveu
entrar na igreja do Padre Anacleto em pleno meio dia, com sol rachante. Só de
olhar pro Ronron a gente tinha certeza de que ele já tomara umas. Chegou
devagarzinho à cestinha de taboca que tava na frente da estátua de São
Benedito, pegou a única nota de dez reais e, olhando pra estátua, cochichou:
- Ô cumpanhero!... Ieu tô picisano mais quiocê, tá?
Despois eu devorvo...
Acontece que o Ronron Miau demorou demais pra fazer
o serviço. Deu tempo tranquilo para o sacristão Vaivai Jojô correr ali do outro lado da rua e chamar o policial que cochilava na
delegacia. Não deu outra.
- Devorve a grana, Ronron safado! Digero ô eu botocê
no xilindró!
Ronron volta correndo pro São Benedito, devolve os
dez reais na cestinha e reclama:
- Ô negão, traidô!
Num ti disse quia devorvê? Picisava chamá o guarda?
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