18/01/2013

O PRESO QUE AMAVA A PRISÃO



Certa época, na primeira metade do século passado, apareceu em Carmo do Rio Claro, - quando lá não tinha ainda aquele lagoão - talvez proveniente das bandas de Tabuí, um certo individuo, filho do vento, ainda jovem, pobre, maltrapilho, sem eira nem beira, com nenhuma referência e cujo nome ninguém sabia.
     Perambulando pelas ruas do Carmo, dormindo em qualquer canto ou nos bancos das praças, passou a viver da caridade alheia. Um prato de comida não lhe faltava em troca de um ou outro servicinho.
Conseguiu conquistar a confiança da população - o que o levou, em pouco tempo, a cometer pequenos delitos nas residências por onde passava. Mostrou, com isso, que era ruim que nem melancia de ponta de rama. Denunciado pela população foi garfado pela policia e recolhido à cadeia local, onde passou a ter morada fixa. Como era o costume daquela época, foi-lhe permitido cumprir a pena em regime semiaberto, podendo sair durante o dia para prestar alguns serviços na cidade. Foi a glória para o nosso Preso - como ficou conhecido desde então. Com casa e comida por conta do governo, passou a juntar uns caraminguás que lhe permitiram comprar uma roupinha nova e botar uma botina nos pés. Entre as grandes tarefas que lhe foram atribuídas, ajudava a polícia no controle do trânsito em ocasiões especiais, tomava conta da cadeia na ausência de policiamento, punha ordem nas filas das procissões e dos desfiles de Sete de Setembro...
 Duas grandes alegrias pintaram na vida de nosso amigo: juntou dinheiro suficiente para comprar uma bicicleta, o que lhe permitiu exercer com maior presteza suas funções, e o acesso à máquina de escrever da delegacia. Foi assim que ele aprendeu a datilografia. Mas como quem nasceu pra lagartixa, nunca chega a jacaré, durou pouco a felicidade do nosso Preso. Foi quando a autoridade policial lhe comunicou que sua estadia por ali tinha chegado ao fim e ele tinha que deixar a cadeia. Pego de surpresa, o Preso desabou num copioso e desesperado pranto, pedindo pelo amor de Deus que o deixassem ficar por ali, onde era sua casa. Emburrou por vários dias, mas não teve jeito. Obrigado a assumir a condição de liberto, declarou à policia, em alto e bom som:
 - Se eu tiver que sair daqui, eu vô lá fora, mato um e vorto pra cá.

(Este causo me foi contado pelo Prof. Joaquim da SIlva Júnior, de Carmo do Rio Claro-MG)

Um comentário:

Mafê disse...

Ah se todos fossem assim...