Vivaldino, o dono da jardineira
da cidade, foi fazer discurso na Perdição. Candidato a vereador, com grandes
planos de ficar rico logo e montar uma grande empresa de ônibus. Dois votos garantidos,
o da mulher e o seu. Resolveu ganhar outros apelando para o povo da roça, que
julgava mais fácil de levar na conversa, principalmente pra quem tinha a língua
solta, como era seu caso.
Povinho na Perdição, de ouvidos
atentos e olhos arregalados, tentava entender a fala de Vivaldino, vulgo
Valdino, em meio a uma ventania que jogava poeira pra tudo quanto é lado e
levantava as saias das mulheres.
- Cêis pur
acaso tão sabeno que fui eu que arrumei benzedô mode curá a broca da dona Deja?
E o porco do sô Sebastião? Fui eu que curei ele! E a cachorra da Iracema?
Quando ela pariu, eu que tava lá! Pois é. Sô home muito virtuoso, cheio de
fartura pra mode que conheço muita gente.
E o homem foi
tomando gosto pelo monólogo complicado e continuou, para platéia tão atenta, misturando
alhos com bugalhos, falando das suas virtudes e dos seus feitos em prol da
comunidade.
- Mas
quantos docêis já me viro por aqui, pois que plantei muita mandioca na grota da
comade Remunda! Cêis sabe tamém que aquele pau atravessado no rego da cumade
Manoela foi obra minha! Pois é, aquele reguinho de barro cheroso, cercado por
um matinho e com uma aguinha correndo no meio, - ninguém sabe - fui eu que
botei pinguela nele pela primera vez. Por isso e mais muitos outros issos é que
peço o voto docês. O meu sonho é acabá com as injustiça do mundo, meu povo.
Desigualdade num vai havê mais. Quero acabá com esse negócio de rico dormi ni
cochão de mola enquanto o pobre dorme na cama de pau duro!... Vote ni mim, meu
povo!
Povinho,
mesmo achando graça e vendo muita malícia na fala do Valdino, - pois que povim
da Perdição é bobo é nada - aplaude animado, principalmente na fala de acabar
com o que era injusto no mundo. Aí o candidato resolve, no seu improviso, falar
mal da vida alheia.
- Fiquei sabeno, meu povo, que aquelotro
candidato, o Zé Falafina, - aquele cornudo - vive meteno o pau na minha muié
por trás. Quero ver se ele é home e vem metê o pau nela pela frente. Aí ele vai
vê com quantos pau faço uma canoa. E ocêis num sabe que o Tõe Arruda, o
prefeito, com medo do que eu andava falano, - já que num tenho papo na língua -
me chamou na casa dele pra mode cumê um churrasco! Ele queria era passar
melzinho na minha boca mode eu ficá calado... Hum! Passa é bosta!
Nessa hora
do discurso, povinho não conseguia mais segurar as risadas. Mas a vaia mesmo só
explodiu, o discurso acabou e a festa ficou esculhambada, quando o Valdino
tascou a última frase, cheio de esperanças:
- Meu povo!
Cêis sabe que num sô daqui. Sô não! Sô um forastero sem êra e nem bêra. Sô
quinem uma roseira, pois que nasci no Rincão e vim dá o botão no Tabuí.
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