03/01/2013

O CANDIDATO DA PALAVRA FÁCIL

Vivaldino, o dono da jardineira da cidade, foi fazer discurso na Perdição. Candidato a vereador, com grandes planos de ficar rico logo e montar uma grande empresa de ônibus. Dois votos garantidos, o da mulher e o seu. Resolveu ganhar outros apelando para o povo da roça, que julgava mais fácil de levar na conversa, principalmente pra quem tinha a língua solta, como era seu caso.
Povinho na Perdição, de ouvidos atentos e olhos arregalados, tentava entender a fala de Vivaldino, vulgo Valdino, em meio a uma ventania que jogava poeira pra tudo quanto é lado e levantava as saias das mulheres.
           - Cêis pur acaso tão sabeno que fui eu que arrumei benzedô mode curá a broca da dona Deja? E o porco do sô Sebastião? Fui eu que curei ele! E a cachorra da Iracema? Quando ela pariu, eu que tava lá! Pois é. Sô home muito virtuoso, cheio de fartura pra mode que conheço muita gente.
            E o homem foi tomando gosto pelo monólogo complicado e continuou, para platéia tão atenta, misturando alhos com bugalhos, falando das suas virtudes e dos seus feitos em prol da comunidade.
            - Mas quantos docêis já me viro por aqui, pois que plantei muita mandioca na grota da comade Remunda! Cêis sabe tamém que aquele pau atravessado no rego da cumade Manoela foi obra minha! Pois é, aquele reguinho de barro cheroso, cercado por um matinho e com uma aguinha correndo no meio, - ninguém sabe - fui eu que botei pinguela nele pela primera vez. Por isso e mais muitos outros issos é que peço o voto docês. O meu sonho é acabá com as injustiça do mundo, meu povo. Desigualdade num vai havê mais. Quero acabá com esse negócio de rico dormi ni cochão de mola enquanto o pobre dorme na cama de pau duro!... Vote ni mim, meu povo!
           Povinho, mesmo achando graça e vendo muita malícia na fala do Valdino, - pois que povim da Perdição é bobo é nada - aplaude animado, principalmente na fala de acabar com o que era injusto no mundo. Aí o candidato resolve, no seu improviso, falar mal da vida alheia.
           - Fiquei sabeno, meu povo, que aquelotro candidato, o Zé Falafina, - aquele cornudo - vive meteno o pau na minha muié por trás. Quero ver se ele é home e vem metê o pau nela pela frente. Aí ele vai vê com quantos pau faço uma canoa. E ocêis num sabe que o Tõe Arruda, o prefeito, com medo do que eu andava falano, - já que num tenho papo na língua - me chamou na casa dele pra mode cumê um churrasco! Ele queria era passar melzinho na minha boca mode eu ficá calado... Hum! Passa é bosta!
            Nessa hora do discurso, povinho não conseguia mais segurar as risadas. Mas a vaia mesmo só explodiu, o discurso acabou e a festa ficou esculhambada, quando o Valdino tascou a última frase, cheio de esperanças:
           - Meu povo! Cêis sabe que num sô daqui. Sô não! Sô um forastero sem êra e nem bêra. Sô quinem uma roseira, pois que nasci no Rincão e vim dá o botão no Tabuí.

Nenhum comentário: