01/07/2008

Nos tempos de antigamente

O povo antigo de Tabuí tretou relou conta histórias do arco da velha. Menos de Terrerada. Ninguém gosta de falar neste nome. Um bandido, metido a valente, que aterrorizava as terras da região nos velhos tempos. Com seu bando de cavaleiros, bem armados, invadia fazendas e cidades, enfrentava a polícia e impunha sua vontade onde chegava. O Nordeste não teve Lampião? Pois é. A região de Tabuí teve Terrerada.
Naquele tempo, toda a região que ele freqüentava deixou de ter bailes e festas. Tudo porque mal Terrerada tinha notícia de algum rela-bucho, chegava de surpresa com seu bando e aprontava o maior desprazer. Assim aconteceu em Tabuí nos tempos de antigamente. Lá não era cidade ainda. Poucas casas. Numa fazenda perto de onde hoje é a cidade, tinha um pagode. Todo mundo alegre, dançando para comemorar a chegada das chuvas. Crianças, moços e moças, solteiros e casados, velhos e velhas, na maior irmandade, dançando, comendo e bebendo. Cedo ainda. Umas oito da noite. Aí chegou o bando. Naquela época povo de Tabuí ainda não sabia da existência e da fama de Terrerada. O bando cercou a fazenda. Fazendeiro pediu para apearem e ofereceu comida e bebida. O mais forte de todos, que parecia ser o chefe, desceu do cavalo e chamou uns dez para acompanhá-lo. Ficaram uns vinte cercando a casa, todos com cara de poucos amigos. Povinho tava meio receoso. Depois que os homens comeram e beberam do bom e do melhor, povo pensou que eles iriam embora. Ilusão. No salão enorme, cheio de gente, aquele homenzarrão arranca o trabuco da cintura e dá um tiro pro ar. Aquilo fez gente tremer nas bases. Silêncio total. Povinho nem piscava.
- Minha gente! Eu sou Terrerada. Ocêis me conhece? Não?!... Intão hoje vão conhecê!
O homão tava no centro do salão. Os outros dez encostados na parede, cada um num canto diferente. Nas portas e janelas apareceram as caras dos que tinham ficado lá fora. Mais um tiro. Povinho cercado dava até pulinho de susto quando Terrerada falava apontando a arma para os ouvintes. Ele ia circulando a arma e povinho se abaixando. Aí Terrerada gritou:
- Todo mundo em fila! Fila de um! Home atrás de muié e muié atrás de home!
Velhinhos e velhinhas pensaram estar excluídos daquela ordem. Mas rapidinho a cumpriram quando Terrerada deu dois tiros em volta dos pés duma velhinha banguela. Todos correram pra fila. Aí Terrerada dispensou as crianças que sumiram num piscar de olhos.
- Agora! Todo mundo! Tirá a roupa!
Povinho, morto de vergonha, borrando de medo, foi se desfazendo dos seus paninhos sem nem olhar de lado. E o bando se desfazia em gargalhadas.
- Agora quero música animada, sanfoneiro! E quero todo mundo dançano puladinho! Um atrás do outro! Bora, gente!
E povinho passou a dançar puladinho enquanto tiros pro ar pipocavam e gargalhadas e mais gargalhadas da bandidagem ecoavam pelo salão. Terrerada deu nova ordem:
- Todo mundo chupano o dedão da mão esquerda!
Quem não obedecia levava tiros em volta dos pés. E tinha que sair dançando puladinho chupando o dedo da mão esquerda. Aí veio a outra ordem de Terrerada que foi a grande humilhação pro povo e a maior diversão pro bando do homem.
- Todo mundo enfia o dedão da mão direita no rabo de quem tá na frente!
Muitos não acreditaram no que ouviram. E paravam pra olhar pro Terrerada. E tomavam tiros em volta dos pés. Tiveram que cumprir a ordem. Homens e mulheres, moços e moças, velhos e velhas. Muito machão gemia de sair água dos olhos quando sentia um dedão arrombando-lhe os guardados. Povinho dançando. Puladinho. Chupando o dedão da mão esquerda e com o da mão direita enfiado no rabo do companheiro ou companheira da frente. Com cuidado para não escapar o dedo de nenhuma das partes. Humilhação como aquela nunca tinha acontecido nas redondezas.
Mas a maior humilhação mesmo, que fez a bandidagem rolar no chão de tanto rir, foi quando Terrerada deu outra ordem:
- Todo mundo parado! Sem tirá o dedo!
Todo mundo parou. Engatados um no outro. O homem deu novo tiro pro ar e nem precisou mais gritar. Apenas ordenou:
- Agora, cambada! Todo mundo! Trocá de dedo e dançano puladinho!
Povinho ficou tão humilhado e tão traumatizado com essa história que, até hoje, em Tabuí, ninguém gosta de tocar no assunto e, se falar em dançar puladinho, é o mesmo que estar chamando pra briga.

4 comentários:

Jaqueline Amorim disse...

Nooooooossa! Coitadinhos! huashuashuas

Passando para desejar boa noite e conferir seus causos! Beijos amigo! :D

Blog do Beagle disse...

Tem certeza que foi lá em Tabuí????????? Elza

Unknown disse...

Olá, Jaqueline! Novamente obrigado pela visita e pelo seu carinho.

Unknown disse...

Elza, pode até não ter sido em Tabuí, mas foi lá por aquelas redondezas, segundo contam os antigos. Contudo, já ouvi falar que lá pros lado do Nordeste, algo semelhante aconteceu quando entrou na história o bando do Lampião.