Mostrando postagens com marcador peru. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador peru. Mostrar todas as postagens

23/04/2014

AFANARAM O PERU DO CRAVINHO

Tabuí tem o Zé Cravinho que não é advogado, mas é como se fosse. Tretou, relou, tá ele metendo palavras complicadas no meio dos seus comentários. Palavras tão difíceis que as frases chegam a perder o sentido. E Zé Cravinho ficou tão famosos com suas prosopopeias e outras figuras de linguagem que o povinho vinha fazer-lhe consultas, julgando-o, de fato, um advogado. Ainda bem que, diferentemente da maioria dos advogados, o nosso rábula cobrava barato pela consulta.
Pois bem. Eis que o Natal ia chegando e o Cravinho, dois ou três dias antes, resolveu comprar um peru para a festança. Soltou o inocente no quintal para engordar mais um pouquinho e no dia combinado com a mulher, véspera do Natal, acorda de madrugada, faca em punho e vai em busca do peru. Depois de procurar por todos os cantinhos chegou à conclusão de que o dito sumira. Suspeito número um, o vizinho. Delegacia na hora.
- Senhor delegado, o motivo que me traz aqui é que na noite anterior ao dia em que vos falo, um desses marginais da lei, que o vulgo chama de ladrão, penetrou os umbrais do meu acotijado tugúrio e dele surrupiou o meu ágape dominical que na Escala Zoológica de Renner denomina-se “galinaceos parvos occidentalis”.
O delegado arregalou os olhos, abriu a boca e não sabia o que falar. Zé Cravinho entendendo aquilo como sinal de admiração, continuou a verborreia:
- Senhor delegado, não é o valor intrínseco do semimovente que me traz aqui. É que ilibados confrades meus iriam imolá-lo em holocausto ao meu honomálio...
Foi aí que a autoridade não aguentou mais e resolveu retrucar, com aquela elegância característica dos delegados às antigas:
- Ou traduz ou tá preso!
O Cravinho ficou tão aborrecido com o revertério da situação que se assentou na cadeira, arregaçou a manga da camisa, cruzou as pernas e os braços, olhou pro delegado e sussurrou com tristeza:
- Roubaram o meu peru!...

10/05/2013

O PERU DO PADRE



Padre Anacleto entrou de férias e foi passar uma temporada na sua terra natal, rever os parentes na velha Itália.
Em seu lugar, a Cúria Diocesana mandou para Tabui o frei Fúlvio, também italiano, cuja tarefa na Diocese era substituir eventualmente os párocos que entravam em férias, ficavam doentes ou, por algum motivo, se ausentavam de suas funções. Ao chegar a Tabui, foi recebido com festa e muitos agrados. E entre os muitos presentes recebidos, ganhou de um piedoso sitiante um gordo peru. Além das suas funções habituais da paróquia, frei Fúlvio acrescentou-se também a tarefa de cuidar diariamente do peru. Todas as manhãs, antes da missa, baixava no fundo da horta da casa paroquial para deixar trato e água pro seu peru. Com o passar do tempo, afeiçoou-se ao bicho como a um bom amigo.
Numa bela manhã, ao se dirigir ao fundo da horta, deu com o cercado vazio. Constatação lógica: passaram os cinco dedos no peru do padre. Aborrecido com o fato, sem saber o que fazer, não querendo envolver a polícia, passou o fim de semana conjeturando a maneira de tratar do assunto com os paroquianos. E tomou o que achou a decisão mais correta: usar o sermão da missa das onze, do domingo, a mais concorrida do dia, para abordar o assunto.
- Caros irmãos! Preciso que me ajudem a resolver uno problema molto grave. Respondam às minhas perguntas ficando de pé. Quem, aqui presente, tem um peru? - Todos os homens ficaram de pé, o que assustou o celebrante e deixou-o confuso.
- Non... Quero saber quem já viu um peru?  - Todas as mulheres casadas ficaram de pé.
- Dio mio!... Quero saber é quem já teve vontade de ter um peru? - Todas as moças ficaram de pé.
- Mama mia!... Não entenderam... non capito? Estou querendo saber é quem viu o peru do padre? - Aí só o sacristão ficou de pé.

(Causo recolhido e enviado por Joaquim da Silva Junior, de Carmo do Rio Claro-MG)