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15/05/2014

CONFUSÃO DE BURACOS

     
    Juquinha Dodói saiu de Tabuí pra ganhar a vida na capital. Virou gente importante por lá, ao ponto de aprender a jogar o tal do golfe, um joguinho danado de esquisito, com um campo gramado cheio de buraquinhos. E não é que num dia o Dodói encontra, pelo campo de golpe, uma dama que lhe chamou a atenção e supitou nele a vontade de trocar umas ideias?
   Tão lá os dois, meio na paquera, mas jogando cada um por si. Numa certa altura ficam bem próximos e ele cria coragem e resolve puxar conversa.
    - A senhora me descurpe, mas tô meio perdido... Pode me dizê qualé o buraco meu?
   - Olha, moço, eu estou no buraco número 43. O senhor está um buraco atrás de mim. Portanto, no 42...
   E continuaram o jogo. De vez em quando olhando um pro outro, até trocando sorrisos. Aí ele outra vez puxa assunto: 
   - Perdido de novo. Agora em que buracotô? 
   - Eu estou no buraco número 95. O senhor, um buraco atrás, no número 94... 
   E cada qual recomeça o seu jogo. Até que, cansados de andar, param ao mesmo tempo, sem querer querendo, num lugar que vendia água de coco. E um papinho pra cá, outro pra lá, os dois se assuntando, buscando aproximação. Mas Dodói não queria de forma alguma que o assunto girasse em torno de profissão. Achava inconveniente que a moça bonita soubesse o que ele fazia. Mas não deu outra. Cada um se disse comerciante. “Afff” - pensou ela - “ainda bem que ele não perguntou comerciante de quê”. Como o leitor notou, a moça também tava preocupada e preferiria não falar do que fazia. Juquinha Dodói resolveu – já que ela iria querer saber – perguntar primeiro.

   - A senhora comercia o quê?
  Sem graça, ela perdeu um pouco as estribeiras, mas controlou-se. E pensou “seja o que Deus quiser”.
    - Errr... Eu vendo... Vendo... Trabalho com absorventes higiênicos...
   Dodói deu um sorriso amarelo enquanto esperava a pergunta que tinha certeza de que viria... Logo a que ele não queria:
    - E o senhor, vende o quê no seu comércio?
  - Eu?... Errr.... Vendo.... Humm... Vendo... Óia, moça, continuo um buraco atrás da senhora... Vendo papel higiênico.

(Causo contado pelo amigo José Vasconcelos C. de Souza. Ele é de Santa Bárbara-MG e mora em Brasília-DF).

06/05/2012

Descoberta Tardia


Naquele tempo de antigamente Santa Maria do Tabuí tinha o nome de Pau Branco. Com aquele bairrismo característico de qualquer cidade pequena deste país. Povinho tradicional e embirrado.
Pois bem. Lá é que foi parar o negão Cassiano. Meio andarilho. Mais de trinta anos nas costas. Caladão. Só quando tomava umas e outras é que proseava com Deus e todo mundo. Mas o Cassiano tava ficando chateado da vida. Mais de onze dias na cidade e... nada de mulher! Tava num atraso danado. Nervo nervoso. Só que mulherio de Pau Branco nem olhava para ele. O prestígio do coitado estava mais baixo que poleiro de pato.
- Essas brancona num qué sabê d'eu! Será pra mode quê?
E assim ficava Cassiano gungunando com Cassiano. Cada vez mais brabo, lambendo beira de penico. Vontade estourar de pancadas o primeiro que lhe apontasse o dedo. Desesperado.
Aí negão ficou sabendo do baile. Dançarino de pés leves, não podia perder a oportunidade.
No sábado tomou um banho caprichado. Passou limão no sovaco, podou os poucos fios de barba, deu uma alisada com bastante brilhantina no cabelo assanhado e desobediente, passou água de cheiro e arrematou tudo com uns bons tragos da água que passarinho não bebe, chamada Providência, a mais famosa do vale do Sorongo.
Quando chegou a hora do baile, lá pelas dez da noite, tanto a água de cheiro quanto o limão já estavam vencidos e o bafo de cachaça do negão era tão forte que ninguém podia riscar um fósforo perto do Cassiano. Mas, mesmo assim, nosso herói tomou mais umas talagadas para criar coragem e... seja o que Deus quiser! Entrou no rancho do baile. Disposto a arrumar mulher de qualquer jeito.
- Quero dançá não moço! Tô cansada!
- Ieu?... Nem sei dançá moço!
- Num posso. Meu marido num dexa eu dançá com gente de fora!
Cada uma dava uma desculpa mais esfarrapada pra não dançar com Cassiano. Já de madrugada, uma bem branquela fez um comentário bem racistazinho no costado do Cassiano:
- Além de pobre, é feio, preto e bêbado!
Cassiano, espumando de raiva, pronto para apelar, resolveu tomar satisfação com a brancona. Pega-a pela goela e solta a pergunta cheia de bafo da canjebrina:
- Por que qui ninguém aqui qué dançá comigo, ô branquicenta?
- É qui-qui a gente só-só dança memo é com rapaz de Pau Branco, moço!
Foi o que a coitadinha conseguiu responder, meio engasgada, mais branca que cera, referindo-se à rapaziada da cidade. O Cassiano, pra lá de golado, cambaleando, põe a cuca meio lerda pra funcionar e exclamou pra quem quisesse ouvir:
- Só fartava essa! Por que num avisaro inhantes? Agora, ondé qui vô arrumá cal numa hora dessa?