Naquele tempo de
antigamente Santa Maria do Tabuí tinha o nome de Pau Branco. Com aquele
bairrismo característico de qualquer cidade pequena deste país. Povinho
tradicional e embirrado.
Pois bem. Lá é que
foi parar o negão Cassiano. Meio andarilho. Mais de trinta anos nas costas.
Caladão. Só quando tomava umas e outras é que proseava com Deus e todo mundo.
Mas o Cassiano tava ficando chateado da vida. Mais de onze dias na cidade e...
nada de mulher! Tava num atraso danado. Nervo nervoso. Só que mulherio de Pau
Branco nem olhava para ele. O prestígio do coitado estava mais baixo que
poleiro de pato.
- Essas brancona
num qué sabê d'eu! Será pra mode quê?
E assim ficava
Cassiano gungunando com Cassiano. Cada vez mais brabo, lambendo beira de
penico. Vontade estourar de pancadas o primeiro que lhe apontasse o dedo.
Desesperado.
Aí negão ficou
sabendo do baile. Dançarino de pés leves, não podia perder a oportunidade.
No sábado tomou um
banho caprichado. Passou limão no sovaco, podou os poucos fios de barba, deu
uma alisada com bastante brilhantina no cabelo assanhado e desobediente, passou
água de cheiro e arrematou tudo com uns bons tragos da água que passarinho não
bebe, chamada Providência, a mais famosa do vale do Sorongo.
Quando chegou a
hora do baile, lá pelas dez da noite, tanto a água de cheiro quanto o limão já
estavam vencidos e o bafo de cachaça do negão era tão forte que ninguém podia
riscar um fósforo perto do Cassiano. Mas, mesmo assim, nosso herói tomou mais
umas talagadas para criar coragem e... seja o que Deus quiser! Entrou no rancho
do baile. Disposto a arrumar mulher de qualquer jeito.
- Quero dançá não
moço! Tô cansada!
- Ieu?... Nem sei
dançá moço!
- Num posso. Meu
marido num dexa eu dançá com gente de fora!
Cada uma dava uma
desculpa mais esfarrapada pra não dançar com Cassiano. Já de madrugada, uma bem
branquela fez um comentário bem racistazinho no costado do Cassiano:
- Além de pobre, é
feio, preto e bêbado!
Cassiano, espumando
de raiva, pronto para apelar, resolveu tomar satisfação com a brancona. Pega-a
pela goela e solta a pergunta cheia de bafo da canjebrina:
- Por que qui
ninguém aqui qué dançá comigo, ô branquicenta?
- É qui-qui a gente
só-só dança memo é com rapaz de Pau Branco, moço!
Foi o que a
coitadinha conseguiu responder, meio engasgada, mais branca que cera,
referindo-se à rapaziada da cidade. O Cassiano, pra lá de golado, cambaleando,
põe a cuca meio lerda pra funcionar e exclamou pra quem quisesse ouvir:
- Só fartava essa!
Por que num avisaro inhantes? Agora, ondé qui vô arrumá cal numa hora
dessa?
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