Pois naquela noite até o Careca da
Jupira foi ver o trem para conhecer um leão. Careca, é bom que se esclareça,
usa muletas, pois que nascera deformado das pernas e andava com dificuldade.
Na hora do espetáculo, os leões, tão
apregoados, eram apenas dois. E não é que o domador comete o desarranjo de
deixar escapar um deles da jaula? Cêis não imaginam o alvoroço que foi. Gente
correndo pra tudo quanto é lado, uns subindo nas tábuas da plateia, outros
trepando naqueles paus fincados no picadeiro, um bafafá nunca antes visto
praquelas bandas. Menos o Careca, que, pequenino, mais conhecido como o
aleijadinho, ficou esquecido por todo mundo. O leão, a dois metros dele, abria o
bocão e passava a língua nos beiços, pronto para uma carne fresca.
As pessoas que estavam mais ou menos
a salvo, vendo a iminência de uma tragédia maior, preocupadas com o
aliejadinho, começaram, com desespero, a gritar:
- Óia o alejadinho!... Óia o
alejadinho!!!...
Cada qual querendo que aparecesse
alguém para salvar o Careca. Só que ninguém se atrevia a ir lá, com medo de colocar
o pescoço em risco.
O Careca da Jupira, entendendo de
forma errada a situação, ficou foi puto da vida, naquele risco iminente de ser
devorado. E, numa hora em que a turba diminuiu o berreiro, ouviu-se o seu grito
de desespero:
- Cambada de fedaputa! Calaboca!... Dexa
o lião ô menos iscoiê, uai!...
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