26/05/2013

PANEM ET CIRCENCES


Numa noite de muito calor e tempo abafado, tá lá o circo - fuleiro como todo circo que chega a Tabuí – lotado de neguinho caçando diversão. Povim baixou em peso para conhecer os tais dos leões, a grande novidade que a empresa “Panem et Circences” apresentava, segundo os anúncios, nas cidades mais importantes do país.
Pois naquela noite até o Careca da Jupira foi ver o trem para conhecer um leão. Careca, é bom que se esclareça, usa muletas, pois que nascera deformado das pernas e andava com dificuldade.
Na hora do espetáculo, os leões, tão apregoados, eram apenas dois. E não é que o domador comete o desarranjo de deixar escapar um deles da jaula? Cêis não imaginam o alvoroço que foi. Gente correndo pra tudo quanto é lado, uns subindo nas tábuas da plateia, outros trepando naqueles paus fincados no picadeiro, um bafafá nunca antes visto praquelas bandas. Menos o Careca, que, pequenino, mais conhecido como o aleijadinho, ficou esquecido por todo mundo. O leão, a dois metros dele, abria o bocão e passava a língua nos beiços, pronto para uma carne fresca.
As pessoas que estavam mais ou menos a salvo, vendo a iminência de uma tragédia maior, preocupadas com o aliejadinho, começaram, com desespero, a gritar:
- Óia o alejadinho!... Óia o alejadinho!!!...
Cada qual querendo que aparecesse alguém para salvar o Careca. Só que ninguém se atrevia a ir lá, com medo de colocar o pescoço em risco.
O Careca da Jupira, entendendo de forma errada a situação, ficou foi puto da vida, naquele risco iminente de ser devorado. E, numa hora em que a turba diminuiu o berreiro, ouviu-se o seu grito de desespero:

- Cambada de fedaputa! Calaboca!... Dexa o lião ô menos iscoiê, uai!...

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