Chegou pra Tabuí um pastor de uma igreja nova. Bão
demais da conta. Povim entregando pra Jesus a rodo. Padre Anacleto preocupado
com a perda de fiéis. E o pastor Evangelildo visitando os arrabaldes da cidade,
os cafundós do sertão e mais gente entrando pra sua igreja.
E deu que nessa quadra a dona Diva Gina,
proprietária da pequena zona da cidade, resolveu que tava na hora de fazer uma
reforma no puteiro, pra dar mais conforto pras meninas e pros clientes. Decidiu
fazer um puxadinho. E o pastor Evangelildo descobriu as ideias modernísticas e
mundanas de dona Diva e pronto. Tava o quiproquó formado. Resolveu juntar seu
rebanho para tentar bloquear a construção do puxadinho. Fizeram gritaria em
frente à prefeitura, invadiram a sessão mensal da câmara dos vereadores e, por
fim, acamparam na rua em frente à zona, espantando quase toda a freguesia e
dando prejuízo à proprietária e às meninas. E as orações, penitências e
campanhas contra o puxadinho começaram a atingir até o povim do padre Anacleto,
inconformado com aquela sem-vergonhice lá do outro lado da ponte.
Mas no dia em que resolveram levantar acampamento,
pois todo mundo tinha o que fazer, a obra tava totalmente paralisada. Mal foram
embora, os pedreiros, carpinteiros e serventes contratados pela dona Diva, lá
no Bambuí, chegaram à noite e concluíram o serviço.
Inauguração marcada pro sábado seguinte. Com festa
regada a cerveja e Providência à vontade. Churrasco também. Machaiada de Tabuí
não confirmava presença. Publicamente. Mas dona Diva, discretamente, enviara
convite pros seus clientes assíduos e, por intermédio deles, toda a região já
sabia da festança e lá baixariam em peso. Mas, na noite de sexta-feira, caiu um
toró na cidade e um raio atingiu o puxadinho da dona Diva Gina. Queimou foi
tudo.
Foi aí que o pastor Evangelildo caiu no gosto do
povo mesmo. Passou a ser chamado de homem milagreiro e, de boca em boca, todos
passaram a saber que não podiam contrariar o homem pois que ele tinha partes
com o Altíssimo. “Ó, gente, oração do pastor Evangelildo é quinem reza
braba”... E o próprio pastor, nas suas falas, confirmava que foram o poder da
oração e a fé do seu povo os responsáveis pela destruição daquele antro de
pecado.
Dona Diva o que fez? Processou o pastor e a sua
igreja como sendo os responsáveis pela destruição do seu empreendimento e do
seu negócio, quando solicitaram intervenção divina. E pedia gorda indenização.
O pastor Evangelildo, por sua vez, no aperto, negou
tudo. Ele e sua igreja nada tinham a ver com a tragédia. Obra exclusiva da
natureza e da vontade de Deus.
O juiz, que aparecia em Tabuí uma vez por semestre
para julgar os processos, é quem teria a carga de decidir tão estranha
situação. Foi por isso que o Taquinho, frequentador semanal do puteiro em horas
tardias, comentou com o Camisola, em volta de uma mesa no Copo Sujo, enquanto
entornava da Providência:
- Ó, sô!... Sei não... É a premera veiz que vejo
isso. Uma dona de cabaré que afirma que a oração tem todo o poder do mundo e um
pastor dizeno que oração num vale de nada...
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