Deodato saiu de Tabuí pra ganhar a vida que
tava custosa demais da conta. “O negóço é í pa Brasília, cidade nova... Lá deve
de tê muita chancha preu”... E foi. Em Brasília, arrumou um empreguinho, passou
pra outro e foi pulando de emprego e arrumando a vida.
Quando já tava melhor das pernas, passou a
estudar, pois, mais inteligente que os políticos que infestam a cidade,
descobriu que o estudo abre horizontes para a vida. Em pouco tempo, não mais
que cinco anos, estudou tudo o que queria e precisava e já era empresário do
ramo do comércio. E ganhou a vida. Comércio bem localizado, mulher empregada,
filhos em escola boa, casa com o que havia de melhor, viagem duas vezes por
ano. Era a vida que pedira a Deus.
Tanta coisa boa atrai o olho alheio e foi assim
que, certa noite, Deodato acorda com um barulho no quintal. Pelos vidros que
rodeavam a casa, notou que havia um estranho rondando a propriedade, já do lado
de dentro dos muros, como que procurando uma forma de entrar. Como a casa era
segura, ele não se assustou. Tranquilo, falando bem baixinho, conseguiu avisar
à polícia. Disse-lhes que o estranho não estava armado e que, se chegassem
rápido, pegariam o ladrão sem nenhum problema. A polícia informou que
infelizmente não havia viatura disponível no momento e que, assim que chegasse
uma, iriam ao endereço anotado.
Depois de uma meia hora, sem nenhum sinal de
polícia, com o ladrão ainda procurando forma de entrar na casa, Deodato ligou
novamente.
- Ó, não precisam mais ter pressa. Já matei o
ladrão com um tiro certeiro de fuzil AR15. Ficou com a barriga toda
escangalhada.
Nem cinco minutos se passaram, acontece a maior
barulheira na rua. Chegam seis carros da polícia de uma vez, com as sirenes
ligadas, um carro de bombeiros para resgate, um helicóptero que acordou a
vizinhança até a um quilômetro de distância, uma turma da televisão e outra dos
direitos humanos da OAB. O ladrão foi preso em flagrante, assustado com tanto
movimento, pensando, decerto, que iria entrar na casa de algum político
importante. Mal sabia ele que era apenas a casa de um cidadão que nascera na
distante Tabuí.
Foi aí que veio o comandante da operação, um
capitão sei lá das quantas, nervosinho, subindo nas tamancas, interpelar o
Deodato:
- O senhor por acaso não avisou que tinha
matado o ladrão?
- Avisei, nobre capitão. E vocês não me disseram
que não tinham viatura disponível?
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