27/04/2013

JURUMELA, O EXTERMINADOR DE SOGRAS



Amável Sossego, num certo período obscuro da vida, teve a sogra morando com ele. Se bem que isso raramente é sorte, eu sei. E com o ele não foi diferente. A sogra se intrometia em tudo e o homem começou a ter problemas com a mulher e até com os filhos por causa das maledicências da velha.
Até que um dia o Amável Sossego comprou o burrinho Jurumela, do Totonho da Marianica. Burrinho danado de manhoso e treteiro. Mas era quando tava com o seu burrinho que o Sossego tinha sossego. Passava o dia todo fora de casa carpideirando a roça e ele não enchia o saco do Jurumela e a recíproca era verdadeira. Quando a tarde ia findando, a tristeza tomava conta do homem porque tinha que voltar para casa e enfrentar a sogra com suas reclamações, suas críticas, sua língua e suas doenças.
Mas como nem tudo que é ruim tem que continuar ruim, apareceu um dia a sogra lá no meio da roça levando o almoço numa panela preta, de ferro. Amável Sossego ficou meio desconfiado com a presença da sogra e pronto pra levar pedrada, já perdeu o apetite. Foi lá, desmarrou o Jurumela, colocou-o à sombra duma aroeira onde já tinha deixado  uma gamela com água e sentou-se perto do burrico pra comer um tiquim.
- Cê tem que arranjá uma marmita pra gente trazê o armoço procê, Sossego! Onde já se viu a gente trazê armoço numa panela pesada dessas?
- Tá bão, sogra, vô ranjá uma malmita!...
- Credo, e esse burrico tá fidido dimais da conta, sô! – a velha falava isto, enquanto limpava na saia a mão molhada com o suor do burro, quando ela passara a mão no trazeiro do animal.
Foi nessa hora que o burrico, parece que assimilando a raiva que o Sossego tinha da sogra, resolveu acertas as contas com ela. Outra encostada dela na anca do bicho, ele sai de lado e, enquanto ela vai caindo desequilibrada, o burrico tasca-lhe um coice no pé da nuca, daqueles bem dados. A velha morreu sem nem saber de quê.
Sossego, com receio de haver incriminação pro lado do seu Jurumela, tratou logo de mandar fazer caixão de primeira pra sogra, pediu encomendamento e missa. Mas nos encomendamentos da defunta, ainda na fazendinha, o Padre Anacleto notou uma coisa estranha. Quando vinha uma mulher dar os pêsames ao Sossego, falava-lhe alguma coisa ao ouvido e ele balançava a cabeça de forma positiva. E quando vinha um homem, o Sossego balançava a cabeça de forma negativa. Trem esquisito demais da conta.
Enquanto iam em procissão pra igreja, o padre Anacleto resolveu interpelar o Sossego.
- Per che, signore Amável Sossego, o senhor concordava com as mulheres e discordava dos homens, quando iam dar-lhe os pêsames?
- Ó, padre, a muierada vinha e dizia uma coisa ô otra de bom da sogra e eu num era bobo de discordá, né mezz? Sô um home enducado e ponhava acordo em tudo, o sinhô entende?
- Mas e os homens, senhor Amável? Per che a negativa pra cada uno?
- É qui ês, dicerto cargum pobrema ca sogra, quiria sabê se eu vindia meu burrico Jurumela, uai!...

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