
E começou a gritaria,
cada um se esgoelando mais que o outro.
- Ô desgraça! – gritava
o Cláudio e metia vassourada no fogão.
- Socorro! – gritava a
Mariazinha.
- Vem agora que eu te
mato! – Outra vassourada no pé da mesa. Era uma vez um cabo de vassoura...
- Virgem santíssima! Meu
Deus do céu! – Nessa hora quem tava com o espeto de churrasco já era a
Mariazinha.
- Fura a barriga dele,
mãezinha! Enfia o espeto nele!... Era o herdeiro, querendo ajudar, grudunhado
no pescoço da mãe.
- Vô te matá! Vô pegá o
facão, sô feladamãe!... Passa aqui travêiz, passa!...
- Ai, meu Deus, quieu vô
morrê!... – Era a Mariazinha, já querendo desmaiar...
Nem preciso dizer que a
gritaria, em plena noite de sexta-feira santa – no interior, naquele tempo, o
povo respeitava o silêncio recomendado pro dia – acordou a vizinhança. Só que
os vizinhos não sabiam que se tratava de um rato. Pensaram foi coisa bem pior.
- Benhê, o Craudio tá quereno matá a Mariazinha!... Corre lá,
home!... – Foi assim que a Malvina acordou o José Padre
Nosso, seu marido, dando-lhe um cutucão.
- Vô é nada, sá! In briga de marido e muié a gente num mete a
cuié!...
Mas não
deu outra. Apareceram bem uns quinze vizinhos no alpendre da casa do casal
gritento, prontos para arrombar a porta enquanto, lá dentro, a gritaria
continuava. E junto com o arrombamento, veio o silêncio.
- Gente, Mariazinha
morreu! – concluiu a Malvina, que, da sua casa, começou a telefonar pra família da
falecida para avisar.
Assim
que os vizinhos arrombaram a porta e correram pra cozinha, tavam lá, rindo, a
Mariazinha, o filhotinho e o Cláudio, agachados, em volta da bacia d’água em
que o marmanjo lavara os pés ao anoitecer, apreciando o ratinho nadando e
tentando fugir. Mas, a cada tentativa de sair, ele escorregava e caia novamente
na água.
Tudo explicado, o
Cláudio ainda teve o desplante de reclamar:
- Agora quero vê quem
vai pagá a minha porta iscangaiada!...
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