Doutor Pessoa, quando saiu de Tabuí, era apenas o Pessoinha,
conhecido pelas meninas da cidade por ser um pitéu. Estudantezinho mediano, mas
ambicioso, achou que Tabuí não dava mais pra ele. Foi direto pra Rio de Janeiro,
lugar de gente fina e de povo com muito dinheiro, fazer a vida. E, de fato, lá
estudou e virou advogado, quando começou a pegar um ou outro trabalhinho para
manter-se. Casou com a dona Delícia, e, ajudado por sua carinha bonita,
conseguiu emprego em um escritório de advocacia que cuidava de condomínios pela
cidade.
Pois bem, em um desses condomínios havia um sério problema. O
prédio tinha alguns pontos comerciais no andar térreo: uma farmácia, uma
sapataria, uma loja de material de construção e um famigerado boteco. E o
boteco, ah, o boteco!... Os moradores estavam por aqui com ele, pois era um
antro de beberagem, putaria, barulho e confusão, além de abrigar um
churrasquinho de gato cujo cheiro penetrava pelos apartamentos chiques do
condomínio provocando raiva, abrindo o apetite e engordando as madames.
Em reunião, os condôminos resolveram que, no dia em que o boteco
finalmente fechasse as portas, não poderia mais haver no local estabelecimento
que trabalhasse com comidas e bebidas, o que acabaria com a confusão. E esse
dia finalmente chegou, para alívio de todos, ou quase todos.
Acontece que o dono do ponto recebeu uma proposta para colocar
um restaurante no antigo lugar do boteco. Então envia um advogado, o Doutor
Pessoa, para uma reunião com a síndica e alguns membros do conselho consultivo,
pra tentar convencer o pessoal de que seria um ótimo negócio, chique, fino,
tranquilo, sem cheiro, sem barulho, sem sujeira, enfim...
A maioria da plateia, composta de várias senhoras e poucos
senhores, se ouriça com a chegada do advogado novinho, lindo e maravilhoso.
Doutor Pessoa, depois de horas gastando os argumentos dele, e não conseguindo
nenhum apoio, apesar da plateia majoritariamente feminina, está quase
entregando os pontos, desanimado com sua capacidade de não convencer a ninguém
de nada. Foi quando uma das condôminas pediu a palavra e começou a seguinte
conversa tonta:
- Sabe o que eu realmente não estou gostando aqui? Essa aliança
que o senhor está usando aí, no seu dedo direito! Eu queria mesmo era que o
senhor se casasse com a minha filha!
Uma segunda condômina, não gostando do assunto, rebate de
pronto:
- Ah, nada disso! Eu queria que ele casasse era com a MINHA
filha!
- Mas a sua filha já é casada! – argumenta a primeira.
- Não tem problema, eu mato o meu genro! Ele não tem nem cabelo,
esse daí tem! - diz a segunda.
Aí, entra uma terceira condômina na história e dá o seu
veredito:
- Mas a MINHA filha já provou que sabe fazer filhos bonitos,
então ela tem que ter prioridade!
Nisso, a síndica, que nada falara sobre o assunto, e tem uma
neta mais bonita do que os netos da terceira, não aguentou mais ficar calada e
tascou:
- Mas se é por isso, o MEU FILHO faz filhos maravilhosos! Pra
ter o senhor na família, estou oferecendo o meu filho!!! Fazemos qualquer
negócio!!!
Bagunça geral! O Doutor Pessoa pegou a malinha, juntou a
papelada e saiu de fininho. As condôminas continuaram discutindo. Uma chegou
até a passar mal, dizendo como aquele advogado a tinha deixado com tesão, ao
que o general Holofantino Fufucas, morador mais antigo do prédio e
desacostumado com esses assuntos, surdo, cochilando o tempo todo e sem entender
a confusão, pergunta:
- O quê? O que ela falou? Testão?
Ao que o marido da síndica, resignado com a balbúrdia do
mulherio, responde:
- Elas estão falando do fardão, general!... Do fardão!
(Causo enviado por Márcia Maria Nunes, do Rio de Janeiro-RJ)
(Causo enviado por Márcia Maria Nunes, do Rio de Janeiro-RJ)
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