25/03/2013

DEU TRETA NA REUNIÃO DOS CONDÔMINOS




Doutor Pessoa, quando saiu de Tabuí, era apenas o Pessoinha, conhecido pelas meninas da cidade por ser um pitéu. Estudantezinho mediano, mas ambicioso, achou que Tabuí não dava mais pra ele. Foi direto pra Rio de Janeiro, lugar de gente fina e de povo com muito dinheiro, fazer a vida. E, de fato, lá estudou e virou advogado, quando começou a pegar um ou outro trabalhinho para manter-se. Casou com a dona Delícia, e, ajudado por sua carinha bonita, conseguiu emprego em um escritório de advocacia que cuidava de condomínios pela cidade.
Pois bem, em um desses condomínios havia um sério problema. O prédio tinha alguns pontos comerciais no andar térreo: uma farmácia, uma sapataria, uma loja de material de construção e um famigerado boteco. E o boteco, ah, o boteco!... Os moradores estavam por aqui com ele, pois era um antro de beberagem, putaria, barulho e confusão, além de abrigar um churrasquinho de gato cujo cheiro penetrava pelos apartamentos chiques do condomínio provocando raiva, abrindo o apetite e engordando as madames.
Em reunião, os condôminos resolveram que, no dia em que o boteco finalmente fechasse as portas, não poderia mais haver no local estabelecimento que trabalhasse com comidas e bebidas, o que acabaria com a confusão. E esse dia finalmente chegou, para alívio de todos, ou quase todos.
Acontece que o dono do ponto recebeu uma proposta para colocar um restaurante no antigo lugar do boteco. Então envia um advogado, o Doutor Pessoa, para uma reunião com a síndica e alguns membros do conselho consultivo, pra tentar convencer o pessoal de que seria um ótimo negócio, chique, fino, tranquilo, sem cheiro, sem barulho, sem sujeira, enfim...
A maioria da plateia, composta de várias senhoras e poucos senhores, se ouriça com a chegada do advogado novinho, lindo e maravilhoso. Doutor Pessoa, depois de horas gastando os argumentos dele, e não conseguindo nenhum apoio, apesar da plateia majoritariamente feminina, está quase entregando os pontos, desanimado com sua capacidade de não convencer a ninguém de nada. Foi quando uma das condôminas pediu a palavra e começou a seguinte conversa tonta:
- Sabe o que eu realmente não estou gostando aqui? Essa aliança que o senhor está usando aí, no seu dedo direito! Eu queria mesmo era que o senhor se casasse com a minha filha!
Uma segunda condômina, não gostando do assunto, rebate de pronto:
- Ah, nada disso! Eu queria que ele casasse era com a MINHA filha!
- Mas a sua filha já é casada! – argumenta a primeira.
- Não tem problema, eu mato o meu genro! Ele não tem nem cabelo, esse daí tem! - diz a segunda.
Aí, entra uma terceira condômina na história e dá o seu veredito:
- Mas a MINHA filha já provou que sabe fazer filhos bonitos, então ela tem que ter prioridade!
Nisso, a síndica, que nada falara sobre o assunto, e tem uma neta mais bonita do que os netos da terceira, não aguentou mais ficar calada e tascou:
- Mas se é por isso, o MEU FILHO faz filhos maravilhosos! Pra ter o senhor na família, estou oferecendo o meu filho!!! Fazemos qualquer negócio!!!
Bagunça geral! O Doutor Pessoa pegou a malinha, juntou a papelada e saiu de fininho. As condôminas continuaram discutindo. Uma chegou até a passar mal, dizendo como aquele advogado a tinha deixado com tesão, ao que o general Holofantino Fufucas, morador mais antigo do prédio e desacostumado com esses assuntos, surdo, cochilando o tempo todo e sem entender a confusão, pergunta:
- O quê? O que ela falou? Testão?
Ao que o marido da síndica, resignado com a balbúrdia do mulherio, responde:
- Elas estão falando do fardão, general!... Do fardão!

(Causo enviado por Márcia Maria Nunes, do Rio de Janeiro-RJ)

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