27/02/2013

VALDÊNCIO QUASE VIRA PAI




Valdêncio dormiu mal. Noite agoniada já que seria a primeira vez a apresentar-se ao juiz. Medo é característica marcante do caipira que prefere ver o cão chupando manga a enfrentar uma autoridade.
Na hora certa, tá lá o Valdêncio na frente do homem. Um juiz de fora que, vez ou outra, vinha a Tabuí julgar umas causas. O cidadão suava frio, fedia inhaca, mas tava lá, acompanhado de um advogadozinho fuleiro.
- O senhor é o pai, de acordo com o exame de DNA que está aqui nos autos. Portanto, se fez, agora paga.
O juiz deu uma examinada nas folhas do processo e continuou:
- O senhor já deve ter calculado e já decidiu quando vai poder pagar de pensão, não é? É só falar e pronto. Eu julgo e o senhor está liberado...
Ao ouvir o discurso da autoridade, Valdêncio arregalou os olhos, como se não tivesse entendendo nada. Deu tremedeira, dor de barriga e boca seca enquanto o suor brotava na fronte. Olhou pro advogado com olhos pidões de socorro. E o advogado, inexperiente, calado. Como ninguém falou nada, o juiz voltou à carga:
- O que o senhor acha de três salários mínimos por mês?
Foi aí que o advogado criou coragem para intervir:
- Excelência!...
- Não senhor! O senhor não precisa falar nada. Deixe o réu responder ao que perguntei!
O advogado engoliu em seco, tremeu nas bases, mas voltou humildemente e timidamente a insistir:
- Mas, Excelência!...
O senhor juiz, que naquele dia estava de bom humor – pois que arrumara namorada nova - resolveu dar uma chance ao rábula.
- Tudo bem. Está com a palavra o advogado de defesa!
- Excelência, a ação não é de investigação de paternidade. É de indenização por colisão de veículos!...
O Excelência, meio sem graça, para tirar o dele da reta, jogou a culpa no escrevente:
- Trocou os processos, heim senhor escrevente?
E o Valdêncio, que amarelo estava, só começou a recobrar as cores quando o advogado providenciou-lhe um copão d’água.

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