Lá
na prefeitura, certa quadra, trabalhou o Miguel Generoso. Era o
quebra-galho do prefeito. Fazia qualquer serviço bem feito e sem
reclamar. Até o dia em que apareceu na cidade o Quequé, um doido ora
carinhoso, ora violento. Suas atitudes malucas começaram a preocupar
povinho de Tabuí. Prefeito foi pressionado a tocar Quequé da ciade. Mas
pradonde?
Após muita deliberação
ficou resolvido que a prefeitura iria assumir os gastos de mandar
Quequé para um hospital de doidos na capital. Miguel Generoso foi
escalado para fazer o serviço. No dia marcado os dois embarcam no trem
noturno. Miguel sempre de olho no Quequé, pronto a qualquer atitude
suspeita. Um pouco antes de chegar à capital, o trem fica retido numa
estaçãozinha por várias horas por causa de um troço lá pra frente. E a
viagem que deveria ter demorado cinco horas retardou umas treze. Nesse
tempo todo, enquanto Quequé dormia tranquilo, seu acompanhante não
pregou o olho. Preocupado em cumprir bem sua tarefa, não queria correr o
risco de deixar o doido fugir.
Chegando a Belo Horizonte, o Miguel tava um bagaço. Pegaram um taxi e
foram direto para o hospital. Lá, como sempre acontece em hospital
público, foram atendidos de má vontade. Depois de muita encheção de
saco, mandaram os dois entrarem numa sala grande e esperar. Sala cheia
de gente de olhares estranhos e gestos esquisitos. Arrumaram um banco,
sentaram e esperaram, esperaram...
O Generoso não aguentou a tensão e o cansaço e dormiu sentado. Quequé,
que tava na sua fase de doido carinhoso, caiu fora. Miguel acordou com
um cutucão nas costas. Era um negão cheio de músculos:
- Vai lá dá seu nome! É sua vez!
Miguel, tonto de sono, nem se lembrou do Quequé. Foi lá no guichê e deu
seus dados pessoais. Recobrou a razão quando ouviu do atendente uma
ordem pra dois brutamontes que estavam atrás dele:
- Tudo em ordem! Podem levar mais este!
Quando Miguel quis refugar, os brutamontes o agarraram e o foram levando meio arrastado por um longo corredor.
- Gente! Eu num sô doido! O doido é o outro!
Quanto mais o Miguel esperneava e reclamava, mais era prensado contra a
parede, seguro pelos cabelos e tinha os braços torcidos. Ele só
resolveu parar de reclamar quando ouviu o negão brutamontes dizer pro
outro:
- Esse doido parece que é
mais maluco que os outros. Só uma injeção daquelas de 20 centímetros
cúbicos para dar um jeito nele!...
Miguel foi jogado numa sala cheia de doidos e ficou esperando a hora de
tomar a injeção prometida. Desesperado, preocupado, agoniado, sem saber
como provar que não era doido. Até que, num certo momento, ele olha
para um canto da sala e tava lá o Quequé sorrindo e dando tiau para ele.
Nessa hora o Miguel ficou bravo. Pegou o Quequé pelo colarinho, deu uma
boa esfrega nele e o obrigou a contar quem era o doido de verdade.
Ainda bem que, naquele dia, Quequé era doido carinhoso.
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