17/02/2013

FALTA DE BOSTA

O Boró resolveu sair estrada a fora para conhecer o Rio de Janeiro, onde tinha uns parentes. Deixou Tabuí, que ficara pequena demais pro seu gosto e falou:

   - Nadica de Belzonte e nadica de Montisclar, Beraba, Berlândia, Braguari... Meu negóço é Rid’janero, cidade grande, com muita plaia, muita água e fartura de muié bonita, tudo peleca...

   Chegando ao Rio, depois de uma passada rápida por Jidifora, a parentalha, inclusive sua comadre, começou a mostrar pra Boró os lugares mais bonitos e os pontos turísticos da cidade, até que chegaram ao Pão de Açúcar.

   - Bora lá em cima, Boró?

   - Ieu? Óiaqui, ó, cumade!... Naquele negocim daquele tamanim?

   - Aquilé o bondim, home de Deus? Carece tê medo não!

   Boró entrou no bondinho na marra. O negócio sacudia pra cá e pra lá e Boró suava frio e teve batedeira. De vez em quando a fricção de cabo de aço com ferro provocava um barulho tipo assobio e Boró sentia cólicas intestinais. Outras vezes o bondinho parece que ia parar em pleno ar e Boró, segurando firme no corrimão, não teve outra solução senão agachar, até que sentou no piso... Boca seca, suando frio, o homem sofreu mais que sovaco de aleijado, mas conseguiu chegar lá em cima são e salvo, embora muito sem graça com o seu comportamento na frente de estranhos.

   - E aí, Boró, gostô da experiência? Prontim pra descida?

   - Eu? Descê na disgrama dessa geringonça aí? Nunquinha! Num vô não! Ó cumade, esse negoço quaisque me matô. Pódescê e me isperá na estaçã!.. E óia aqui, ó, ieu só num me caguei todo por que num tinha bosta pronta, viu?...

   E Boró não desceu. De bondinho não. Fez todo o trajeto pela escada, apreciando o mulherio cheio de prendas daquela cidade abençoada.

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