Maria Cabrita
aproveitou que tinha padre novo em Tabuí e resolveu ir conhecer a figura. O
Padre Anacleto tirara férias e veio substituí-lo um padre novato, boa pinta, chegado
numa caninha, tocador de viola e apreciador dos predicados das moças bonitas da
cidade, diziam à boca pequena.
Não posso
deixar de dizer que Maria Cabrita era a maior bebum da cidade. Não havia dia de
sobriedade para ela. E, naquele domingo, missa das cinco da tarde, a Cabrita já
tava naquele estado. Mas ela tinha um detalhe perigoso: boa memória, além de conhecer
todo mundo na região, inclusive os podres de cada qual. Na igreja, nossa
heroína sozinha em um banco, - pois que sua companhia não era muito querida não
– cochilando, enquanto a missa corria solta, dirigida pelo vigário novo. Tudo
foi muito bem até na hora da comunhão, com os fiéis em fila. Nesse momento ela
foi lá pra frente e começou a fazer uns comentários pra todo mundo ouvir.
- Percivá,
ocê comungano? E aquela história docê com a Antonha do Tacilo?
- E ocê,
Moeminha? Tão bonita e tão pecadora, né?
- Ihhh! Lá
vem a dona Zumira, a língua de trapo!... Eu, heim!!!...
- Óia ali, ó!
Hic!... Envem o Ernesto com cara de santo, o mesmo que eu vi onte na bera do
rio executano a Carmelita!...
Quando o
padre novato olhou feio para a Maria Cabrita, ela já foi logo dizendo:
- Padre, num
óia pra mim que fico com tesão, viu amô?... Ai, meldels!!!...
- Ocê
comungano, Dirminha? E o robo quiocê feiz niqui trabaiava na prefeitura?
Nessa hora
veio, cheio de autoridade, um ministro da eucaristia, o Claudião, mandar a
Cabrita abaixar o facho, ficar em silêncio, pois que ali era a casa de Deus...
- Ah, é, né?
E logo ocê, Claudião fariseu!... Num foi ocê que na semana passada queria me dá
deis real mode eu forunfá cocê? Num foi?
Claudião, sem
saber onde botar a cara, sumiu, com as mãos no bolso, pros fundos da igreja,
não sendo mais visto pelo resto do dia, nem em casa.
E Maria
Cabrita apontava e ria e fazia comentários ao ver tais e tais pessoas na fila
da comunhão. E todos sérios, com cara de paisagem, querendo ficar livres do
comentário certeiro e passar incólumes pela bêbada. Até que não houve jeito. A fila
se desfez de repente. Cada um pegou seu rumo e foi procurar um canto pra se
esconder, até sem comungar. Houve gente que passou mal e até quem saiu de
fininho da igreja, com medo da língua ferina e afiada da Maria Cabrita. O padre
nem olhava mais para ela e tratou logo de encerrar a missa, - já que a Cabrita
ficara em pé perto do altar e ninguém teve a coragem de tirá-la de lá.
(Este causo
me foi contado pela amiga Maria Idalina Ottoni de Andrade, de São José dos
Campos-SP)
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