16/01/2013

A VINGANÇA DO MEMÊ



Memê, que já foi embora fora do combinado, uma vez estivera em Belzonte e proveitara para assitir a um filme de faroeste que dava o que falar pra tudo quanto é lado. Faroeste mexicano, daqueles em que, a cada cena, jorram litros e litros de sangue, com suspense em cima de suspense, mantendo a plateia sem respiração e até arrepiada, tanta a emoção.
Memê, encolhidinho e atento à tela, sentia-se na glória por estar na capital, vendo filme que ninguém de Tabuí vira... Seria motivo de assunto por muito tempo.
Na cena, o bandido entrara no banheiro, perseguido por um monte de policiais que gritavam:
- Abra a la puerta! Abra a la puerta!...
Como ele não abria la puerta, os meganhas arrombam tudo e prendem o homem que, no final, viu-se que não era bandido e sim o pai da donzela que fora seviciada e assassinada. Choro e mais choro, ao fim do filme. Memê não deixou por menos. Na ida pra Tabuí não podia lembrar do filme que chorava amargurado, de tanta tristeza.
Mas qual não foi a surpresa do Memê quando, ao chegar a Tabuí, o filme faroeste seria apresentado lá também. O candidato a prefeito, muito bonzinho, resolvera trazer a atração mundial para a cidade e prometia inserir Tabuí no rol das cidades mais cultas do mundo. No dia da apresentação o cineminha de Tabuí não cabia mais gente e Memê, logicamente, foi dos primeiros a chegar e achar assento, mas muito chateado por não ser mais o único cidadão a ter assistido ao filme.  No momento da cena mais dramática, quando a polícia está gritando “Abra a la puerta! Abra a la puerta!...”, Memê não resistiu. No meio do silêncio geral, ele grita a plenos pulmões:
- Non puedo! Non puedo! Estoy a cagaire!...
A gargalhada foi geral e até bem poucos dias o lanterninha do cinema tava procurando o Memê para dar-lhe uma coça.

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