Até que, numa noite, lá pelas tantas, resolvem dar outro rumo na seresta. E Cirilo falou, na língua de fanho:
- Bentinho, tô cum fome, sô!
- Ih, rapaz! Nem me fale! Eu tamém!... Num tô mais guentano!
Mas o que comer sem dinheiro e naquela hora da madrugada?
- Só tem uma solução, Cirilo! Farinha eu já tenho lá em casa! Vamo roubá um pato do padre Anacleto e fazê uma sopa!...
- Mas, rapaz, e cumé que a gente pula aquele muro daquela artura?
- A gente dá um jeito, uai!
E lá foram. Rodearam a igreja até chegarem aos fundos da casa paroquial, longe da rua e de olhares indiscretos. Padre Anacleto, famoso criador de patos, já, há muito, se prevenira contra eventuais surrupiadores de patos. Fizera muro de mais de dois metros de altura.
- Bentinho, cê é mais magro, cê pula! Eu faço cadeirinha com as duas mão pra te jogá do outro lado!...
Bentinho, doido pra enfiar uma sopa de pato goela abaixo, nem desconversou. Aceitou a missão. Cirilo juntou as mãos cruzadas na altura da virilha e Bentinho colocou ali o pé direito. Tudo repentino. De um golpe do Cirilo, Bentinho voou por cima do muro e caiu sentado bem em cima de um pobre pato que, inocentemente, dormia, no seu canto, o sono da madrugada. O bichinho, antes do esmagamento, apenas teve tempo de gritar quac!!!...
O Cirilo, com o ouvido pregado no muro, para ouvir os movimentos do outro lado, entendeu errado. Pensando que era o amigo fanho querendo saber qual pato pegar, respondeu nervoso, mais fanhoso ainda:
- Quarqué um, sô! Vai virá sopa mesmo! E é ocê que ta veno aí, num sô ieu!... Iscói quarqué um e vãombora, sô!...
Nenhum comentário:
Postar um comentário