07/08/2011

Azarado nem um pouquinho


Bentão arranjou namorada. Meio passada da idade mas que dava ainda para uma boa meia sola. Um dia resolve ir conhecer a família da bichinha. Arreia seu melhor cavalo, calça bota e espora, põe o 38 na cintura e se manda estrada a fora. Três léguas. Chega já com o sol baixo, a tempo de assistir ao futuro sogro tirar o leitinho da tarde das últimas vaquinhas magrelas.
Bentão conheceu o povo e, meio sem graça, fica por ali olhando uma coisa ou outra e até capiscando de trivela as belas pernas da cunhada. Sem assunto e sem o que fazer, resolve que tem que ir embora. É muito longe, pode chover, mãe vai ficar preocupada, tem compromisso amanhã cedo e outros babados de desculpa. O sogro e a sogra não concordam. Não querem perder um genro com tanta facilidade.
- Não senhor! Sem jantá ocê num vai!...
Envergonhado e a contragosto, mesmo com fome, aceita o convite. A sogra prepara, aliás, já vinha preparando um senhor jantar. Põe à mesa, além da toalha de crochê mais chique que tinha, umas louças das mais bonitas acompanhadas de muita faca, muita colher e garfo de montão. Apetrechos com os quais Bentão não tinha muita intimidade. Ao ir pra mesa ele nem sabia onde botar as mãos, de tão sem jeito. Mas assim que o sogro começa com seus papos de vacas e bois e cavalos e roça e pescarias e diabo a quatro, o Bentão fica mais animado e chega até a dar um bom desfalque no comestível. Bom mesmo Bentão achou aqueles catocos  de suã. Nunca os tinha comido tão gostosos. Pena que tinham mais osso que carne. E aquele miolinho!... Ah! Aquele miolinho!... Bentão não resistiu. Num instante em que não tinha ninguém olhando, resolve enfiar o dedo mínimo no buraco do osso para retirar o tutano, coisa de que ele gostava demais da conta, desde menino. Só que o dedo engastaiou no buraco do osso. Antes que alguém visse sua situação melindrosa, ele enfia a mão debaixo da mesa, esperando melhor oportunidade e continua a corresponder ao prosório usando uma só mão para  comilança e bebelança.
Foi aí que apareceu o leão, cachorro grandão e muito chegado num osso de suã. O danado do bicho foi logo se enfiando debaixo da mesa antes que Bentão o visse e tomasse algum providenciamento. Leão, sem nem pensar muito, abocanha aquele osso disponível entre as pernas do visitante e se propõe a sair correndo. Só que o dedo do Bentão tava ainda no meio do osso, bem preso, já meio inchado. O baque foi tão grande que o moço foi sendo puxado na marra. E aí sua espora garrou na toalha de crochê e ele foi arrastando tudo, derrubando pratos de louça com todos os acompanhamentos. Sogro, sogra e filhas assistem embasbacados à saída repentina do pretendente. Leão quase come junto com o osso um pedaço do dedo do rapaz.
Você pensa que terminou as desgraças do Bentão? Escuta só. Com vergonha e puto da vida ante tamanha desfeita, resolve ir embora sem se despedir de ninguém. Mas assim que vai montar no cavalo, com pressa e sem nenhum cuidado, o revólver se prende em não sei o quê e escapa um tiro dos mais potentes. Cavalo se assusta tanto que sai em desabalada correria deixando Bentão caído de quatro no meio da fedentina de estrume e urina das vacas. Todo melecado. O homem não vê outra solução. Saiu correndo atrás do cavalo, cuspindo fogo pelas ventas e nunca mais pôs os pés por aquelas bandas.


5 comentários:

Penélope disse...

Hoje estou passando apenas para lhe fazer um convite.
Estou falando do www.superlinks.blog.br que é um site agregador que vale a pena visitar, pois é mais um espaço no qual você poderá publicar seus links de matérias, pois é um site sério e com critérios bem positivos.
Espero que goste da dica.
Um grande abraço

Auxiliadora Correia disse...

Vai ser azarado, sô!!!!! Coitado do Betão!!!

Auxiliadora Correia disse...

Eurico, estou adorando os causos!!! Parabéns!!!!!!

Auxiliadora Correia disse...

Eurico, estou adorando os causos!!!
Parabéns!!!

Carlos A. Lopes disse...

Coitado do Betão! Muito bom causo ... você é 1000, meu caro Eurico.