06/06/2013

GATINHO QUER LEITINHO

Sandoval tinha chegado da Bahia fazia pouco tempo. Mas logo assimilou usos e costumes de Tabuí e tornou aquela sua terra, mais da mulher, a dona Maroca, e dos quatro filhos. A exceção foi para a fala. Fala de baiano mesmo.
Num certo dia entra a família toda no trem de ferro para conhecer aquele negócio e darem uma chegada ao Bambuí. Bem no dia em que vinha no mesmo trem um bando de estudantes que, quando em grupo, quase sempre ficam maleducados, cada um querendo fazer mais gracinha que o outro.
Esqueci-me de dizer que a dona Maroca era, como dizem os baianos, um pitéu. Uma mulata bonita e encorpada. E, como o filho menor começou a chorar, Maroca, sem nenhuma cerimônia, tirou o peito pra fora e ofereceu-o à criança. Só que o menino parece que tava sem apetite e continuava o choro.
O Sandoval começou a ficar implicado com aquele berreiro e gritou para a mulher que estava num banco mais pro meio do vagão:
- Dá leite pra esse muleque, mainha!
- Mas ele num tá quereno, home de Deus!...
Essa foi a deixa pros estudantes iniciarem as brincadeiras de mau gosto. E começaram, assim tampando a boca, de forma que ninguém sabia quem estava falando:
- Miau!... Miau!... Miau!...
E houve até quem reconhecesse a origem da família pelo sotaque e gritava do outro lado:
- Meau!... Meaus!... Meaus!...
Sandoval não aguentou a provocação. Tirou de dentro de uma sacola um baita facão, brilhoso e de corte cantante e foi lá pra onde estavam os estudantes.Batia o facão no piso do vagão e gritava:
- Xanim!... Xanim!... Xanim!...

Sumiram os gatos na mesma hora e a turma só não pulou do trem porque ele estava à velocidade espetacular de 20 quilômetros por hora.

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