Zé do Agenor foi criado na roça e desde
criança pegou no pesado, tornando-se um homem forte e respeitado. Trabalhador
honesto, muito sério no cumprimento de suas obrigações, não fazia e nem gostava
de brincadeiras. Depois que se mudou para a cidade, tinha o costume, após o
tranco, no final de tarde, de passar no boteco do Carlão e tomar uma limonada para
matar a sede. Isto antes de chegar em casa, ao invés de entrar na cerveja ou na
cachaça, como era o costume da maioria. Foi por isto que os gozadores de
plantão passaram a chamá-lo de Limonada. O apelido pegou. Tanto é que muita
gente nem sabia mais seu verdadeiro nome. Apenas ele não achava graça
nenhuma, considerando o apelido depreciativo. Sério e macambúzio, aguentou a
humilhação por um bom tempo.
Certa tarde em que as coisas não
tinham andado a contento, ele chegou ao boteco, achegou-se ao balcão, e pediu o
de sempre. O bar estava lotado com os frequentadores costumeiros, muitas mesas
ocupadas pelos jogadores de truco e outras por jogadores de conversa fora. De
uma das mesas alguém gritou:
- E aí, Limonada, tudo inrriba? - Agenor
recostou-se no balcão, fuzilou com o olhar o atrevido e, mostrando a arma na
cintura, declarou em alto e bom som:
- Iscuita aqui, cambada di pingaiada.
Num gosto nem um poquim docêis mi chamá desse jeito nojento. Di hoje in dianti
si arguém mi chamá di novo ansim, eu juro qui mato o disgraçado. - Saiu
vendendo azeite, deixando a turma preocupada.
Passados alguns dias, novamente o
bar lotado, chega o Agenor para aplacar a sede da lida. De uma das mesas um
freguês levanta a voz e pede:
- Carlão, trais um limão pra mim! - Um
outro emenda:
- Trais água pra mim! - E um terceiro:
- Trais açúca tamém!
Agenor calmamente saca do revólver,
coloca em cima do balcão, vira-se para os engraçadinhos e declara:
- Si arguém misturá, eu prego fogo!...
(Causo recolhido e escrito por Joaquim da Silva Junior, de Carmo do Rio Claro-MG)
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