Lá
nas entranhas de Tabuí tem uma serra. Serra do Urubu. No pé da serra,
um rio, o Sorongo. Ladeando o Sorongo, a estrada de ferro. Bem antes da
ponte, a estaçãozinha que desmoronou. Restou o desvio, com as alavancas e
trilhos enferrujados. Entre as duas, - estaçãozinha e ponte -, o corte,
com um barranco de uns 30 metros e lá vai pedrada. Lá de cima do
barranco, Totonho aprecia o movimento dos trens que passam rápido, 20 a
30 km por hora, no máximo uma vez por dia. Totonho não perde um. Ouve o
ronco do bicho, tá lá ele, em cima do barranco, dicocado, fazendo
pitinho, vendo o trem passar.
Turma da estrada de ferro resolve colocar Totonho pra cuidar do que restou da velha estação. Foram fazer teste com o velho.
- Totonho, se a ponte do Sorongo cair e o trem tá vindo, o que o senhor faz?
- Vô ali e mudo a chave da lavanca do desvio pro trem mudá de rumo e pará, uai!
- E se a chave estiver estragada?
- Aí arranjo um pano vermeio, vô pra riba da linha e fico banano. Aí o maquinista me vê e pára o trem!
- Mas, Totonho, e se o maquinista não o vir, se estiver cochilando?
- Aí acho que é mais mió eu tê sempre um apito, quinem desses de juiz de futebol, e apitá até o trem pará...
Totonho foi ficando agoniado com tanto perguntamento. Doido pra garantir o emprego e ganhar uns trocados.
- Mas, Totonho, e se o trem vier à noite?
- Aí só tem um jeito: eu acendo uma fogueira pro maquinista me vê e grito e pulo até ele pará o trem!...
- Mas, fogueira, Totonho!? E se estiver chovendo?
- Aí, meu Deus!... Aí o recurso é eu tê tamém uma lanterna e fazê pisca-pisca pro maquinista, uai!...
- Tudo bem, Totonho! Suponhamos agora que você tem a lanterna mas não tem pilha?... O que você faz?
Totonho entregou os pontos. Desanimou de ganhar o emprego.
- Óia, meu amigo, aí não tem jeito não! É muita disgraça prum cristão só. Aí eu chamo a Cota!
- Chama a cota? Que cota, Totonho?
-
Óia, moço, Cota é minha muié. Chamo ela, a gente vai pra riba do
barranco, acendo meu pitinho e vamo oiá e escuitá o trem disgringolá e
virá pedaceira, todo espatifado, dentro do Sorongo!...
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