Ladrão de cavalo na região. Polícia não resolvia. Davam parte, era o mesmo que nada e só sumindo cavalo. Aí os fazendeiros, em reunião para discussão dos acontecidos, confabularam e resolveram que iriam matar um ladrão de cavalo. “Aí a gente matando um, a cambada some no mundo e não aparece mais.”
Depois dessa reunião, um fazendeiro conseguiu, com seus peões, prender dois ladrões de cavalo que deram bobeira. A turma foi se reunindo para apreciar a cara dos bandidos e começaram os palpites. “bamo matá”, “bamo capá”, “bamo cortá uma mão ou arguma coisa deles”... A turma dos puxa-saco respondia em coro: “isso, mata memo”, “capa memo”, “corta a mão memo”...
Na hora do pega pra capar, a turma do “bamo matá” venceu e foram todos gritando “mata memo”, em direção á beira do rio, puxando os dois, amarrados pelas mãos por um laço.
Na hora de dar o tiro ou a facada, não apareceu ninguém pra executar. Todo mundo foi tirando o seu da reta.
- É um trem muito cruel, sô! Quero não... Dizia um.
- Se eu dô um tiro nesse mondrongo, depois todo mundo fica sabeno que fui eu... Eu, hein? Tô fora!
- A, neemm, sô! Sartei de banda... Dizia um terceiro.
Foi aí que alguém deu uma ideia. “Vamo amarrá uma corda no pescoço de cada um e nóis passa a corda num gaio por cima do rio... Na hora que ele tivé quase morreno, nóis sorta e deixa ele caí no rio... Aí a piranhada come e num foi nenhum de nóis quem matô o fedazunha fedaputento.”
A vez do primeiro ladrão. Amarraram o laço no pescoço dele e o passaram na galha da árvore e foram suspendendo o homem... Suspendendo... E ele, com a mão entre o laço e o pescoço, fazendo enorme esforço pra não ficar sem ar e a corda não apertar demais o cangote. Nisso o galho da árvore não resiste ao peso e quebra. O homem cai na água, rapidinho arranca o laço do pescoço e nada pra outra margem, feito um lambari. Antes de vazar na capoeira, grita pra turba:
- Cês qué matá ladrão de cavalo? Cêis vai prendê outro, viu, cambada! Eu, cêis num mata não!...
Pegaram o segundo ladrão e foram fazer o mesmo, agora a turba com mais raiva ante a desfeita do desaforento que se foi. Arrumaram outro galho e passaram o laço com cuidado. Mas antes, o ladrão, gaguejando de nervoso, deu um alerta à turma:
- Ó, minha gente!... Cêis arruma uma ga-gaia bem forte pra mo-mode que eu num se-sei nadá não, viu?
(Causo contado pelo amigo Divino Martins, de Itapuranga-GO)
©By Eurico de Andrade, in Tabuí e seus Causos https://www.facebook.com/causos e http://tabui.blogspot.com.br/
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