04/10/2011

Apareceu emprego no Sertão

ou Aí eu chamo a Cota
Lá nas entranhas de Tabuí tem uma serra. Serra do Urubu. No pé da serra, um rio, o Sorongo. Ladeando o Sorongo, a estrada de ferro. Bem antes da ponte, a estaçãozinha que desmoronou. Restou o desvio, com as alavancas e trilhos enferrujados. Entre as duas, - estaçãozinha e ponte -, o corte, com um barranco de uns 30 metros e lá vai pedrada. Lá de cima do barranco, Totonho aprecia o movimento dos trens que passam rápido, 20 a 30 km por hora, no máximo uma vez por dia. Totonho não perde um. Ouve o ronco do bicho, tá lá ele, em cima do barranco, dicocado, fazendo pitinho, vendo o trem passar.
           Turma da estrada de ferro resolve colocar Totonho pra cuidar do que restou da velha estação. Foram fazer teste com o velho.
- Totonho, se a ponte do Sorongo cair e o trem tá vindo, o que o senhor faz?
- Vô ali e mudo a chave da lavanca do desvio pro trem mudá de rumo e pará, uai!
- E se a chave estiver estragada?
- Aí arranjo um pano vermeio, vô pra riba da linha e fico banano. Aí o maquinista me vê e pára o trem!
- Mas, Totonho, e se o maquinista não o vir, se estiver cochilando?
- Aí acho que é mais mió eu tê sempre um apito, quinem desses de juiz de futebol, e apitá até o trem pará...
Totonho foi ficando agoniado com tanto perguntamento. Doido pra garantir o emprego e ganhar uns trocados.
- Mas, Totonho, e se o trem vier à noite?
- Aí só tem um jeito: eu acendo uma fogueira pro maquinista me vê e grito e pulo até ele pará o trem!...
- Mas, fogueira, Totonho!? E se estiver chovendo?
- Aí, meu Deus!... Aí o recurso é eu tê tamém uma lanterna e fazê pisca-pisca pro maquinista, uai!...
- Tudo bem, Totonho! Suponhamos agora que você tem a lanterna mas não tem pilha?... o que você faz?
Totonho entregou os pontos. Desanimou de ganhar o emprego.
- Óia, meu amigo, aí não tem jeito não! É muita disgraça prum cristão só. Aí eu chamo a Cota!
- Chama a cota? Que cota, Totonho?
- Óia, moço, Cota é minha muié. Chamo ela, a gente vai pra riba do barranco, acendo meu pitinho e vamo oiá e escuitá o trem disgringolá e virá pedaceira, todo espatifado, dentro do Sorongo!...

6 comentários:

Maria Idalina Ottoni de Andrade Germann disse...

Fazer o que, né?!!! Rsrs...

Carlos A. Lopes disse...

Amigo Eurico, não tem igual a você nos causos! Parabéns! Um abraço meu caro amigo.

Regina disse...

Olá Eurico, tudo bem?

Adorei essa história, muito divertida

Depois vou ler mais algumas.

Obrigada pela visita no blog.

Regina Célia

Anônimo disse...

Olá querido
Vim retribuir e adredecer sua visita carinhosa. Muito agradável seu espaço. "Causos" muito interessantes!
Retorne sempre!
Beijo na alma
Saudações Poéticas!

Ana Pierri disse...

Ola Eurico, boa noite.

Gostei muito dos seus " causos"
disgringolá e virá pedaceira é tudo de bom.
Fique com Deus, abraços.
Ana Pierri

Miriam de Sales disse...

Tá certo ele.Que mais poderia fazer?
E eu q/ cheguei aqui e fiquei deslumbrada com esses causos gostosos.
Abraços