26/06/2014

CACHORRO BRAVO

   
Joquinha era o responsável pelo serviço de águas de Tabuí. Por muitos e muitos anos ele mandava e desmandava no pedaço. Ele é quem enterrava os canos, fazia as derivações necessárias, limpava a caixa d’água e cuidava para que ela estivesse sempre cheia e limpa. Não quero dizer com isso que a água de Tabuí era tratada. Era não. Prefeito não tava a fim de gastar dinheiro com essas besteiras não. A água vinha do rio Sorongo e chegava direto às torneiras do mesmo jeito que entrara pelos canos.
   Para cobrar pelos serviços da água, o Joquinha tinha dois funcionários que iam de casa em casa fazer a leitura dos gastos. Mas, naquelas casas onde havia cachorro bravo, os funcionários nem chegavam perto e a leitura era feita por semestre, quando dava. Caso contrário, só uma vez por ano.
Foi nessa época que apareceu lá no escritório do Serviço de Águas, o Raimundo Barbeiro, bravo pra daná.
   - Ô, Joquinha! Quero sabê pra mode quê minha conta veio nesse bisurdo!...
   - Tá arta, sô Remundo? Vamo tentá resorvê o pobrema, uai!...
   - Ô Joquinha, num vem querê passá melzinho na minha boca não... Quero sabê causdiquê minha conta tá trêis veiz mais arta!...
   - Sô Remundo, o sinhô puracaso tem cachorro?
   - Tê eu tenho, uai! Mais eu te agaranto que ele num bebe tanta água anssim...

©By Eurico de Andrade, in Tabuí e seus Causoshttps://www.facebook.com/causos e http://tabui.blogspot.com.br/

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