Cinema só uma vez existiu em Tabuí. Durou nem um mês. Funcionava no Bar Ganha, do Cidão. Na hora do filme botavam bancos compridos no salão improvisado, com uma tela na parede do fundo e o bar virava cinema. Nas noites de sábado só entrava mulher e os homens ficavam pra domingo.
O filme, único, era “Amor ao Entardecer”, um
faroeste de quarta ou quinta categoria. Nas primeiras duas semanas, nenhum
incidente. Mas na terceira...
Tava lá, no sábado à noite, um bando de mulheres vendo o filme que elas
diziam ser de amor. Todas ansiosas esperando a cena final. O mocinho dava um
beijo na mocinha, provocando arrepios na platéia, e ia indo embora por uma
estrada reta que sumia de vista. Lá bem na frente ele se virava para dar adeus
à amada abanando a mão. Só que o Cidão, o dono do boteco, acendeu as luzes um
pouquinho antes do “The End”, a tempo de o mulherio todo ver a Fiíca do
Boanerge dando adeus, também abanando a mão e chorando um choro contido.
No dia seguinte era a vez dos homens. Gente de
tudo quanto é canto, até lá dos cafundós, aparecia para ver a novidade. Quase
todo mundo com trabuco na cintura. Era moda. Numa cena do “Amor ao Entardecer”
a mocinha está amarrada a uma árvore enquanto vem descendo uma cobra. Ao mesmo
tempo vem chegando uma onça. A emoção era tamanha entre a platéia e o silêncio
tão completo, que cada um podia ouvir as batidas fortes do seu próprio coração
agoniado. Aí o velho Leandro, que nunca tinha visto um filme e nem tinha
costume com esses modernismos, não resistiu a tanto suspense. Misturou ficção
com realidade. Arrancou o revólver e pregou fogo na onça e na cobra destruindo
a tela do cinema e acabando com a mais moderna diversão de Tabuí.
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