12/03/2013

NO ESCURINHO DO CINEMA





 Cinema só uma vez existiu em Tabuí. Durou nem um mês. Funcionava no Bar Ganha, do Cidão. Na hora do filme botavam bancos compridos no salão improvisado, com uma tela na parede do fundo e o bar virava cinema. Nas noites de sábado só entrava mulher e os homens ficavam pra domingo.

O filme, único, era “Amor ao Entardecer”, um faroeste de quarta ou quinta categoria. Nas primeiras duas semanas, nenhum incidente. Mas na terceira...

Tava lá, no sábado à noite, um bando de mulheres vendo o filme que elas diziam ser de amor. Todas ansiosas esperando a cena final. O mocinho dava um beijo na mocinha, provocando arrepios na platéia, e ia indo embora por uma estrada reta que sumia de vista. Lá bem na frente ele se virava para dar adeus à amada abanando a mão. Só que o Cidão, o dono do boteco, acendeu as luzes um pouquinho antes do “The End”, a tempo de o mulherio todo ver a Fiíca do Boanerge dando adeus, também abanando a mão e chorando um choro contido.

No dia seguinte era a vez dos homens. Gente de tudo quanto é canto, até lá dos cafundós, aparecia para ver a novidade. Quase todo mundo com trabuco na cintura. Era moda. Numa cena do “Amor ao Entardecer” a mocinha está amarrada a uma árvore enquanto vem descendo uma cobra. Ao mesmo tempo vem chegando uma onça. A emoção era tamanha entre a platéia e o silêncio tão completo, que cada um podia ouvir as batidas fortes do seu próprio coração agoniado. Aí o velho Leandro, que nunca tinha visto um filme e nem tinha costume com esses modernismos, não resistiu a tanto suspense. Misturou ficção com realidade. Arrancou o revólver e pregou fogo na onça e na cobra destruindo a tela do cinema e acabando com a mais moderna diversão de Tabuí.

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